domingo, 29 de junho de 2008

Ano de 1965, presumo


O tempo passou.
Se vi, não dei conta;
Se dei conta,
Não vi mas aqui estou.
Esse mesmo,
Da direita para esquerda,
De calção preto e camisa branca.

sábado, 28 de junho de 2008

Amor proibido

Idade medida,
vida prometida;
Mulher comedida,
vida proibida

Miopia

No tempo passado, dizia ela:
o amor era em demasia;
Agora descobri que ontem e hoje
sofro, pra variar, de miopia.

Assim seja

Fim de uma espera;
era, por evidência, enfim,
em mim, aquele que deseja;
seja, assim, uma breve espera!

Descaso

Expresso uma certa impetuosidade,
e ela, na sua retidão, deveras,
reconhece "que não é isso que esperas",
mas, nadinha, além da pura amizade.

Celular

Triiimmm...em plena reunião! Indignação!
- Alô, Maria! Dessa vez o que tu quer?
- Patroa, faço arroz com carne ou baião?

"Amorcite"

Amor explícito,
te deixa todo distraído;
já o amor implícito,
só te resta todo corroído
.

Feedback

Você me pergunta por que fujo?
Para evitar que me troques, novamente,

Por mais um porre do dito cujo!

Obrigado, Manuel Bandeira


Trabalho pouco, esforço-me menos ainda.
Mas gostaria de inventar palavras
Que traduzissem a indolência mais profunda
E mais cotidiana.
Não inventei, mas gostaria, o verbo preguiçar.
Intransitivo:
Preguiço, preguiça.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Perdido

Na multidão busco, sem ilusão,
aquela, dentre muitas, ainda,
que aprisionará este coração!

Simples

Menina, me dá um beijo.
Só assim, matarás, de uma só vez,
Minha sede, fome e desejo !

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Receita de cass(ç)ador

A Receita Federal
da terceira região
realizou um treinamento
pra tratar da isenção
com auditores do Ceará
do Piauí e Maranhão.

Foi escalado um instrutor
com muita preparação
conhecido por dr. Caubi
o cassador de isenção.

Originário da previdência
onde foi analista durão
até um pedido de madre Tereza
recebeu um sonoro não
e a assessora Cristina
referendou a decisão.

A representante legal
de uma sagrada instituição
de cunho beneficente
mas que sofrera exclusão
chegou a ele chorando
pedindo compaixão.

Em nome das criancinhas
que a gente sempre cuidou
peço clemência dr. Caubi
pois tudo desandou
depois do seu parecer
que nossa isenção cassou
reveja com o coração
essa sua decisão
que tudo precipitou.

Porém Caubi impenitente
não quis saber de explicação
ela disse esse desalmado
parece não ter coração
por isso vai ser cortado
da corrente de oração
com data retroativa
pra ele não tem perdão.

Quando chegar na outra vida
ele vai ter uma surpresa
São Pedro vai lhe tratar
com toda aspereza
pois negou até pedido
da Santa Madre Tereza.

Ele foi mentor intelectual
da lei 9732
por isso em seu texto
a adin assim propôs
favor dar ciência ao Caubi
para deixar de exigir
o que essa lei dispôs.

Encerro esta brincadeira
que é pura descontração
parabenizando o Caubi
pela preciosa instrução
para banir a pilantropia
do benefício da isenção.

Fortaleza, 24/08/07
Sérgio Guará

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O galeto mímico




Estávamos nós, eu e meu marido, fazendo um tour pela Europa, precisamente pela Suíça (Spiez, Interlaken, Berna e Zurique), Holanda (Amsterdam), Bélgica (Bruxelas e Brugges) e França (Paris), entre os dias 7 e 22 de setembro de 2007, quando aconteceu o fato a seguir relatado.
O passe de trem comprado por nós, aqui no Brasil (eurail pass, de 15 dias) realmente facilita o trânsito por vários países da Europa, dentre os quais, os acima referenciados. Após transitar pela Suíça e pela Holanda, resolvemos partir para Bruxelas, e de lá, pela proximidade, esticamos nosso passeio até a bela e pequenina cidade de Brugges, também na Bélgica.
Fizemos um belo tour a pé pelas ruas de Brugges, partindo da estação de trem, tempo em que conhecemos várias ruas, ruelas, praças, igrejas e canais, estes, que caracterizam, por excelência, o turismo nesta aconchegante cidade.
Pois bem, como disse anteriormente, o nosso tour redundou em se “passar sebo nas canelas” e se visitar, o quanto possível e enquanto a força física agüentasse, os pontos turísticos da cidade; neste esforço, visitamos a Torre do Campanário Belfry (marco da cidade desde os anos 1300), a Basílica do Sangue Sagrado (aonde existe uma urna contendo, supostamente, gotas coaguladas do sangue de Cristo), a Prefeitura (datada do final do século XIV e início do século XV) e o Lago do Amor (Minnewater Park).
Ao pé da letra, diria que batemos muito as pernas, num ir e vir constante... Assim, nada mais natural que o cansaço e a fome, a partir de certo tempo rodado (e que rodado!), passassem a prevalecer e arrefecer os ânimos, direcionando-nos a procurar um local para se fazer uma boquinha.
Mais umas passadas e nos deparamos com uma feirinha bem ao estilo de “veja, experimente e compre”; era tipicamente um mercado a céu aberto, com predominância de venda de roupas novas e usadas, barraquinhas de comes e bebes, e outros produtos típicos da região, a exemplo do delicioso chocolate belga.
Ao nos depararmos com um espaço vazio em um banco da pracinha do local da feirinha, meu marido não titubeou em sentar e arranhar seu francês de seis meses corridos, lançando ao ar seu estado de cansaço: je suis fatigué. Pronto! Sobrou para mim a missão de buscar a resolução do outro problema, o de matar a fome.
Percorrendo as barraquinhas de alimentos, deparei-me com uma que me interessava, visualizando nesta vários tipos de grelhados, a meu juízo, todos apetitosos. Então, restava-me manifestar, na língua local (francês ou belga), o desejo de transacionar com os barraqueiros. Bem, aí residiu o problema, pois sendo o nó francês ou belga, sequer me arrisquei a desatá-lo.
A fome nos arma de jeitos e trejeitos, mas mesmo assim, não conseguia identificar ao vendedor o grelhado que queria saborear...Era um “apontar” para aquele – não (com a cabeça e com os dedos negando); aquele outro – não; e por aí tentávamos chegar a um acordo, e nada!
Folheando um mini dicionário de francês, verifiquei a palavra porco e apontei para o vendedor, escusando-me de comprar tal grelhado; entretanto, não sei porque motivo, este não me entendia, tempo em que buscou ajuda através de mais dois outros vendedores, mas estes somente serviram para aumentar a “torre de Babel”.
Como uma idéia salvadora, lembrei-me de apelar para imitação do irracional grelhado pretendido. Foi quando, fechando as mãos, colocando os braços mais ou menos na forma de um “V” e os abrindo e fechando em direção ao corpo, consegui traduzir para o entendimento da língua francesa ou belga o desejo saciar o famoso galeto grelhado...
O resultado mais elementar do “cocorococó” mímico foi o ingresso imediato em curso de língua, não a francesa ou a belga, mas aquela que nos faz entender, presumo, em qualquer lugar do mundo, a inglesa – isto porque nem do “chicken” eu me lembrava...

FIM

O efeito do álcool no galego

Se a vida não me permitisse viver em comunidade, quer entre patrícios, quer entre outros estrangeiros, com certeza, o tempo me seria bastante ingrato. Viveria, quem sabe, numa “comunidade de Robinson Crusoé" em constantes movimentos nômades... O que se dizer, então, quando esta mesma vida me oferece a possibilidade de interação mútua, uma convivência mais estreita entre conterrâneos que, por força do destino, nos coloca longe de nossas origens, mas que, infelizmente, por desejos banais decorrentes da fraqueza carnal ou espiritual, termina em desabono das condutas morais antes vislumbradas?
Quando estou longe de minhas origens, em terras estrangeiras, a experiência me leva a buscar, na medida do possível, amizades com pessoas que, pelo menos, falam a nossa língua, visando, com isto, talvez, diminuir um pouco a ausência mais amiúde da terra natal; desejo, de início e, a partir daí, somente "matar a saudade" da sonoridade da língua. Entretanto, com passar do tempo, essa amizade desenvolve-se no sentido de uma relação mais próxima, diária, cordial, assistencial e, às vezes, por sermos brasileiros com características bem definidas no que tange aos laços fraternais, redunda essa relação num vínculo quase familiar, daí trazermos as pessoas para nosso recanto mais íntimo, nosso lar.
Conterrâneas que conheci na rotina do dia-a-dia da cidade longe da Pátria (mercado, ônibus, estação de trem, shows, rua etc), trouxe para dentro do meu lar, muitas vezes, embora apenas após um papo trivial, mas na esperança de, essencialmente, se ter, quem sabe, uma ajuda mútua, um ombro amigo, um conforto espiritual, ou mesmo, como se diz mais comumente, "para se trocar figurinhas".
Então, com o passar do tempo e a convivência mais estreita, sem muitas dificuldades, quando menos espero, estou dividindo com essa conterrânea a intimidade do meu lar: esta é minha casa, este é meu marido, este é meu filho, minhas coisas; aqui eu vivo, limpo, cozinho, lavo, cuido do meu filho, resumindo, faço às vezes da casa. Meu marido trabalha, sai cedo da manhã e volta somente à noite, fuma e bebe socialmente nos finais de semana; meu filho estuda; enfim, vivemos em paz, com saúde e a comodidade que Deus nos deu.
Talvez tenha ocorrido um pouco de excesso de confiança e de cordialidade de minha parte quando, sem procurar conhecer mais amiúde a respeito da conterrânea, ou mesmo por pensar que o fato da origem comum pudesse nos levar a concluir pela idêntica procedência do caráter moral, a trouxe, como se diz, "de supetão", à convivência do lar de minha família.
Se até o presente momento a verdade não se revelara, é porque o tempo não fora ainda suficiente a desmascarar a face imoral e pervertida que então se escondia nas entranhas mais perversas da natureza humana dessa conterrânea.
Bem ou mal, por conveniência ou comodidade material, ou pela busca de quem a sustente, ou, ainda, por pura fraqueza moral e espiritual, encontra-se a dita conterrânea casada e com filhos a criar. Identifiquei em sua fachada uma pessoa que tem também seus problemas de ordem material, que busca melhores condições de vida (o que, talvez, tenha motivado a casar com um estrangeiro, sem que tenha tido, quiçá, o sentimento próprio para tanto), e que, sem nenhuma discrição, é dada aos prazeres do álcool.
Todavia, a característica da hospitalidade brasileira e sua junção com a possibilidade de estender um ombro amigo à conterrânea, me fez convidá-la a frequentar mais vezes meu lar. Trocamos idéias, jogamos conversa fora, brincamos; ofereci-lhe uns lanches, uns drinques e, não mais tardar, até mesmo alguns pernoites, pois a casa em que dormem três, acomoda quatro, cinco...
Em um desses dias fatais, uma noite mais ou uma noite a menos não iria fazer diferença. Conversamos muito, comemos alguma coisa, bebemos o que tinha para beber, e as horas iam passando... No decorrer do tempo, supostamente, o corpo já não respondia aos impulsos da cabeça – é o álcool que começava a predominar sobre os sentidos. A conversa da conterrânea convidada já atropela, em parte, sua ação, que deveria ser comedida.
Na sala, na minha ausência momentânea, segue-se o assédio impróprio, indecoroso, desrespeitador, indecente, da conterrânea sobre o meu marido. Há a oferta verbal disso, daquilo e de outras coisas mais. E se já não bastassem as coisas ofertadas com palavras, eis que surge, como numa vitrine, a exposição visual das partes (mercadorias), que, diga-se, um tanto quanto depreciadas pelo tempo e, principalmente, pela falta de dignidade da conterrânea “comerciante”. A noite chega. É hora de acomodar as pessoas. Acomodaram-se...
O dia sucedeu a noite, amanheceu – nada mais trivial!
Ao amanhecer, toda dona de casa que se preza faz uma devida faxina nas dependências de seu lar: varre-se e limpa-se aqui, ali e acolá. O lixo acumulado de um dia para outro é, por demais, conhecido. Difícil mesmo é se procurar entender o aparecimento, após a virada dessa noite, de um preservativo ainda um tanto quanto umedecido...
Busco justificativas, mas encontro, no máximo e com muito senso de humanismo, apenas explicações.
Diz-se que a noite é uma criança, mas, às vezes, ela dá toda uma indicação de ter sido testemunha de um conluio de um pseudo-casal pervertido.
A suposta desculpa de que "na calada de uma noite regada a álcool as coisas acontecem", parece funcionar somente na mente daquelas pessoas que sequer resguardam uma moral mínima que se espera de uma pessoa casada e que fora convidada a adentrar no recinto familiar de um lar respeitado, ainda que antes aquela tenha aparentado possuir esse respeito, por si e pelos seus acolhedores. Lêdo engano!
A consideração e a amizade até então construída se esvaiu pelos mais ínfimos espaços possíveis, motivados que foram pela deselegância, desonestidade, oferecimento barato do próprio corpo em troca de uma aventura relâmpago puramente carnal e, principalmente, pelo excesso de confiança que depositamos nas pessoas que acolhemos como supostas "amigas".
A consciência (se é que se pode dizer da existência de uma consciência, neste caso) dessa conterrânea casada deveria avaliar a causa, extensão e efeito de sua ação, sabidamente, no mínimo, impensável. Reúno, aqui, alguns pontos que, de certa forma, podem auxiliar nessa sua autocrítica, a saber: devia ela pensar no prazer que tem uma legítima brasileira em ajudar uma conterrânea, abrindo as portas de sua casa, apresentando seu marido, seu filho, participando-a de um pouco de sua vida individual e a familiar; devia ela avaliar se o prazer momentâneo puramente carnal vale mais que alguns anos de convivência fraternal; aonde ela deverá buscar um novo ombro para chorar suas mazelas, pois conheço muito bem a frieza do estrangeiro; será que ela nunca pensou na possibilidade de uma responsabilização criminal ou civil decorrente de seu ato; e, se a vulgaridade de seu ato chegar ao conhecimento de seu marido, qual será sua reação?; será que tamanha desqualificação de conduta moral tinha o condão inicial de causar unicamente a desarmonia de uma família até então perfeita?; e, o que pensar, então, dos desígnios de Deus?
Questiono-me se tal atitude poderia ser uma tanto quanto relevada, quando tenho conhecimento que essa conterrânea, talvez, por imperativo do destino, teve a condição de ser privilegiada por uma educação que lhe oportunizou uma educação a ponto de não lhe permitir tamanha desventura; no entanto, sabendo-se que a dita concubina sempre alegou a paternidade de um suposto médico e que sempre teve anseio por uma formação de nível superior, então, com esse “perfil”, o que seria o mínimo a se esperar?
Por tudo, posso dizer que isto é o resultado da fragilidade humana (daquela que cede ao primeiro desejo da carne); mas, felizmente, louvou-me de minha própria atitude, eis que, com lampejos espirituais frequentes, tudo relevo, tudo perdôo, pois sei que o quinhão de cada um a Deus pertence.

FIM

terça-feira, 17 de junho de 2008

Aqui se aprende a defender a Pátria


O ano era o de 1978. Sol escaldante e calor de matar refletido no brilho peculiar do asfalto interno do 25º Batalhão de Caçadores (25º BC), em Teresina, capital do Estado do Piauí. Nesse clima extremamente pouco aprazível, estávamos nós, recrutas pela obrigação legal de se servir o Exército Brasileiro quando se completa os dezoito anos, na base da “ordem unida” e metidos em pesadas fardas, aprendendo a marchar, respeitar os superiores e defender a pátria – aliás, quanto a essa defesa, sua intenção era massificante, pois, no muro alto que delimitava essa caserna, estava escrito, em letras de um tamanho suficiente grande a se notar a uma distância razoável, a seguinte frase: aqui se aprende a defender a Pátria.
Como se sabe, o indivíduo fardado é conhecido geralmente pelo nome de guerra, representado pelo sobrenome (se o prenome for bastante comum) marcado em cima do bolso superior esquerdo da gandola, ou por um número, este, usado geralmente nas chamadas de controle interno feito pelos superiores que, quando gritavam, o recruta devia responder gritando o nome de guerra. Meu primo consagrou-se no meio da recrutada como sendo o soldado 605, mas que, na análise fria do seu físico de 58kg espalhados numa estatura de 1,70m, talvez, com maior critério na seleção dos recrutas, o mesmo pudesse ter sido dispensado por excesso de contingente – assim não foi, e o massacre psicológico durou, exatos, 365 dias.
É bem verdade que o soldado 605, apesar de sua discordância com a metodologia utilizada pelos militares para se “ensinar a defender a Pátria”, principalmente pelo constante apelo às humilhações, ainda assim, ao término de sua obrigação militar de um ano, saiu laureado com o “diploma de honra ao mérito”, título consagrado àqueles recrutas que não tinham cometido nenhum ato de desrespeito ou indisciplina que possibilitasse a imposição de um castigo – em 2008, portanto, trinta anos depois, se perguntassem ao exemplar soldado 605 sobre a utilização do referido diploma, a resposta seria única:
- Serviu-me tanto quanto o título da Rainha da Inglaterra!
Meu primo, soldado 605, costuma lembrar que seu maior sofrimento no exército não foi o físico, apesar de não ser nada prazeroso a “ordem unida” no calor de 40 graus, as marchas de até 56km, as guardas durante vinte quatro horas na guaritas etc, mas, o constante modo humilhante de se fazer valer a hierarquia militar. De lucro mesmo restou somente a habilitação da carteira de motorista, cujo exame não passou de um passeio no jeep militar, em linha reta, num trecho, ida e volta, de 50m – e só!
É fato que freqüentemente nos dirigíamos à zona rural do Município de Caxias (MA), aonde praticávamos o exercício de aprendizagem de acampamento, tiro e sobrevivência. Em um desses dias, por volta do meio-dia, correu o boato de que a Madalena estava em campo:
- Quem?
Perguntou o meu primo.
- A Madalena. Aquela que costuma freqüentar os arredores do quartel em busca de favores íntimos dos que lhe cai na graça...
- Não é possível! Como ela conseguiu chegar aqui, se estamos a 18km distantes de Teresina, praticamente no meio do mato?!
Confessamos coletivamente, eu, meu primo e o resto do pelotão que tomou conhecimento do fato: até hoje não sabemos como a Madalena chegou ao local em que nos encontrávamos, mas chegou, e fez a “festa” daqueles que a encurralaram no mato.
O boato se espalhou, chegou aos ouvidos daqueles que a conheciam, e estes correram mato adentro a procurá-la; encontraram-na e trataram de fechar o acordo, a contra gosto daquela, de como a satisfação pessoal íntima de cada um do pelotão se daria. Ao que nos lembra, éramos, naquele momento, creio, em torno de quinze recrutas, portanto, grupo suficientemente grande para não se chegar ao comum acordo de quem seria o primeiro – por lógico, não houve concordância e instaurou-se o conflito.
Apostando na sorte, ou, quem sabe, no suposto fato de que talvez sua aparência lhe fosse favorável, o soldado 605 apontou a idéia de que a própria Madalena escolhesse seu recruta número um, vale dizer, aquele que “abriria” o caminho para os demais. A par dessa idéia, e sabendo que fora disto somente a força física de todos contra todos poderia impor uma vontade pessoal, enfim, a recrutada assentiu peremptoriamente.
Perfilou-se a recrutada na parte inferior de um dos lados de um pequeno morro, enquanto a Madalena, do alto desse morro, passava a vista sobre a fileira dos recrutas à sua frente; ia e voltava com os olhos sobre a cara suada de cada um e, com um sorriso maroto inicial, apontou:
- É tu.
Escolhido, o soldado 659 subiu o pequeno morro, chegou ao seu cume e desceu até o outro lado, claro, carregando a Madalena... Não se viu ou ouviu absolutamente nada, mas, menos de dois minutos depois, apareceu, mais suado do que nunca, o soldado Campos, e, logo em seguida, a Madalena com seu olhar disposto a escolher outro recruta...
Pensava o soldado 605:
- “Agora é minha vez!”
Na segunda rodada de escolha, a Madalena preteriu o soldado 605 e outros treze, escolhendo, desta feita, o soldado 597, este, malandro por excelência, porém, segundo se soube posteriormente, já era um velho freguês daquela...
Sobe o recruta, a Madalena no cume, descem e escondem-se no outro lado do morro, se divertem e voltam suados...
Nas idas e vindas da Madalena e seus recrutas satisfeitos, morro acima e morro abaixo, morro acima e morro abaixo, criava-se à expectativa de quem seria o próximo... Meu primo, ansioso para subir e descer o morro, ao ser apontado pela Madalena, teve que se contentar em ser apenas o sétimo da vez, o que lhe permitiu usufruir um corpo mais que suado, mais que usado e mais que lubrificado...
A verdade é que a Madalena suportou, agüentou o pelotão inteiro, é claro, sem poder esconder os malefícios causados pelos derradeiros...
Ocorre que o boato da presença da Madalena no acampamento não foi privilégio unicamente dos recrutas, pois os superiores (cabos, sargentos e tenentes) também tomaram conhecimento de tal fato, o que resultou, como castigo aos recrutas, várias sessões extras de exercícios físicos com um rigor nunca visto, a exemplo de polichinelos, apoio de frente, corridas, subidas e descidas de morros, respostas aos gritos das perguntas dos superiores etc, e, diga-se, tudo isto sob um sol de rachar o quengo e após um almoço pífio feito às pressas e em pé...
Pense aí o que uma quenga pode fazer para satisfação dos desejos mais animalescos dos homens, digo, dos recrutas!

FIM

quinta-feira, 12 de junho de 2008

TV A CABO - Vejam até que ponto nós chegamos

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), entidade criada para organizar o setor de telecomunicações no Brasil, editou a Resolução n.º 488, de 3 de dezembro de 2007, com a intenção de regulamentar os serviços de TV a cabo no País, cuja data de início de validade da mesma seria 2 de junho de 2008, portanto, exatos seis meses após a sua publicação, o que permitiria um tempo bem razoável para adequação das prestadoras desses serviços e das condições essenciais sobre alguns pontos considerados discutíveis, a exemplo da gratuidade do ponto-extra, principalmente, claro, pelo lado das prestadoras desses serviços.
Pois bem. Passados os seis meses previstos para entrada em vigor da dita Resolução, eis que quando nós, consumidores, estávamos almejando usufruir da gratuidade do ponto-extra da TV a cabo em nossas casas, o Conselho da Anatel decidiu pela suspensão temporária, por dois meses, dos artigos 30 a 32 da mencionada Resolução, justamente os que tratam do ponto-extra, e pasmem, com a justificativa para tal decisão sendo a da impossibilidade do consenso quanto à interpretação desses dispositivos do Regulamento pelos diversos interessados envolvidos. Ratifico: foram seis meses para que se chegasse a essa falta de “consenso”.
Ao tempo das decisões judiciais que nos favoreceram, exatamente aquelas que motivaram à edição dos artigos 30 a 32 da Resolução Anatel n.º 488/2007, continuamos na mesma, ou seja, o Governo, vestido com pele da Anatel, se curvando aos interesses das prestadoras de serviços de TV a cabo...
Tenho uma experiência pessoal quanto a isto. Sendo assinante da Net Fortaleza, liguei, no início deste mês de junho, e pedi informações sobre o dito ponto-extra, ao que me foi informado que o ponto gratuito seria o chamado “ponto de extensão”, ou seja, você tem o direito de levar um ponto a qualquer outro ambiente de sua casa/apartamento, só que para você assisti-lo, por exemplo, no seu quarto, você terá que ligar a televisão do ponto central (por exemplo, a sala), isto é, você estará no quarto assistindo uma televisão e uma outra deverá também está ligada sem que ninguém esteja olhando para ela – é este o ponto gratuito que temos direito, à luz das prestadoras de TV a cabo, claro. Em resumo apertado: gastaremos energia elétrica dobrada para “curtir” um ponto gratuito!
Penso que não se precisa de um conhecimento avantajado para se constatar tamanho absurdo, mas, ao que parece, a Anatel está quase se curvando aos interesses privados das prestadoras de TV a cabo, pois só com muito esforço haveremos de criar uma nova expectativa positiva sobre essa tacanha demanda.
À propósito, na mesma decisão que redundou na suspensão dos mencionados artigos (vide Nota à imprensa, publicada no site da Anatel em 06/06/2008), o Conselho Diretor resolveu “de forma a preservar os direitos do consumidor previstos no Regulamento,” suspender “a possibilidade de cobrança por serviços relativos ao ponto-extra (instalação, ativação e manutenção da rede interna, especialmente)”, portanto, se não estou cometendo nenhuma interpretação estranha, creio que nestes próximos dois meses tenho direito ao ponto-extra (o verdadeiro, não o de extensão) totalmente gratuito, inclusive com relação ao valor da instalação. Assim, alô Net Fortaleza, quero meus pontos-extras gratuitos para hoje!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Tristeza

Volúpia de um amor vil.
O tempo passa, passa,
e a gente finge que não viu.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Honestidade

É tudo lá do coração.
E seria por demais, enfim,
Solicitar, de dentro de mim,
por ti “menos admiração.”

Verdade

Meu sentimento é visível;
por mais que você não queira,
em mim, não encontrarás
esse "alguém menos sensível "

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Enrolador

Quando um homem quer uma mulher,
por honestidade, diz o que é e o que quer;
quando ele não quer essa mulher,
inventa o que não é e disfarça porque não quer.

Horizonte

Minha visão, na imensidão do mar.
Meu coração na terra vaga,
com desejo único de te amar.

Amor e vida

Espaço em branco
e coração vazio
são como o amor em pranto
e vida por um fio:
um perde o encanto,
o outro, da vida, o brio

Reclamação à Honda do Brasil e sua autorizada

Comprei um honda civic em agosto/2004. Em dezembro desse mesmo ano fiz minha primeira viagem de, aproximadamente, 1.500km; como na cidade em que estava, Buriti dos Lopes (PI), tinha muito calçamento nas ruas, identifiquei um barulho na dianteira do carro. Ao retornar a Fortaleza, procurei a autorizada Novaluz, que havia me vendido o carro, sendo nela identificado que o problema era na caixa de direção, neste sentido, foi feito um pequeno ajuste, mas nada ficou registrado naquela autorizada. Posteriormente, o carro apresentou o mesmo problema em 11 de janeiro de 2006, quando retornei à autorizada e foi feito um novo ajuste na caixa de direção, outra vez, sem ficar qualquer registro na autorizada Novaluz (embora eu tenha um comprovante de recebimento do carro por aquela, em que consta meu registro como sendo um “barulho na suspensão dianteira") – observa-se que esses dois ajustes foram realizados dentro do prazo de validade da garantia do honda civic (dois anos).
Em 05 de janeiro de 2007 retornei pela 3ª vez à autorizada Novaluz, sendo o carro recebido (tenho o comprovante de recebimento pelo técnico da empresa) com a seguinte discriminação do problema: "ruído na dianteira (cx. direção)"; o serviço foi feito pela terceira vez (apenas um ajuste na caixa de direção), e, também, sem que tenha sido registrado no computador da Novaluz.
Ocorre que, agora, em maio de 2008, o carro me deixou a pé dentro do estacionamento do meu trabalho; acionei meu seguro e foi constatado tratar-se defeito na bomba de gasolina, apesar do carro ter apenas 33.200km rodados. Assim, o honda civic foi rebocado até a autorizada Novaluz, que orçou e realizou o serviço trocando a bomba de gasolina por pouco mais de R$ 1.000,00.
Acresce que quando o carro estava na autorizada, lembrei de apontar novamente o retorno do problema da folga na caixa de direção e pedi para ser consertado, já que o carro ali se encontrava; entretanto, para minha surpresa, o técnico que me atendeu disse que como a garantia já havia findado, tal serviço ficaria em torno de R$ 500,00, pois haveria necessidade de se trocar o reparo da caixa de direção (agora já não era mais ajuste, mas a troca do reparo da mesma).
Acionei o SAC da Honda do Brasil e registrei todo esse relato, mas me foi respondido, por intermédio do consultor técnico chamado Adalberto, que, infelizmente, como não havia os registros dos atendimentos anteriores, a troca do reparo teria que ser paga.
Acreditei na simplicidade dos serviços realizados dentro do prazo de validade da garantia, e não exigi o registro dos ajustes, no entanto, agora estou no prejuízo!
Sinceramente, acho muito pouca coisa para a Honda do Brasil e sua autorizada Novaluz de Fortaleza se furtarem a realizar o serviço – uma troca de um reparo de um problema que surgiu logo aos 5 meses de uso do honda civic!
Por certo, no próximo ano, quando trocarei de carro, deverei me lembrar bastante dessa situação, principalmente pela grande oferta da concorrência, a exemplo do novo corolla, da Toyota.
Datando a reclamação: 4 de junho de 2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

Superposição

Há perfeição no amor e no sexo
quando nos sentimos, assim,
como o côncavo e o convexo.

Silhueta

As retas de quaisquer triângulos
deixam muito a desejar quando
comparadas às curvas dos teus ângulos.

Ex-madrinha

Deixe de fantasiar,
Envolva-se neste meu “olhar”;
Não perca esta oportunidade;
Instantaneamente, pois, aprenderá,
Sem sombra de dúvida, nesta idade,
Entre outras coisas, a me amar.

Hai kai diversos

Quer um 96 diferente?
Pense na vida
e dê uma chance
a este teu fã caliente
.

Longe de ti, mesmo nesta cidade,
qualquer segundo na vida,
sem dúvidas, é uma eternidade

Por que causar uma dor,
se no coração transborda
a vontade de só te dá amor?

Não seja tão perversa!
Somente seu amor
me ajuda a sair dessa.

Sem amor igual,
com certeza, a sua felicidade ,
só quem pode dá o Cau!

Antes, me considerava
um grande amigo;
hoje, não me conformo
se não ficar comigo.

Pode não parecer,
mas desde muito,
só penso em você!

É neste amor de endoidecer
que disfarço, mas não evito,
o coração ficar a sua mercê.

Dói meu coração
viver esta vida
de passado e ilusão.

Pela sua “íntima” amizade,
torna-se irrelevante, quiçá,
seus trinta e poucos de idade .

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A sorte da ex-namorada

Nada mais interessante e prazeroso do que se pertencer a uma associação de classe, com abrangência nacional, que, dentre outros objetivos, patrocina eventos anuais no sentido de fazer o congraçamento de seus associados, seja para discussão de matérias pertinentes ao métier do desenvolvimento dos trabalhos do dia-a-dia, seja para promover a integração de seus membros, ou, ainda, para possibilitar um raro momento de lazer quando de seu encerramento, com a realização de um jantar dançante.
Meu primeiro contato com um evento dessa importância deu-se no ano de 1994, em Salvador (BA), local em que ocorreu o XI Encontro Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias, patrocinado pela associação nacional que congrega os servidores públicos dessa classe. Já nesse evento, debutei também com um namorico com uma colega de trabalho, paraibana, que lá por se encontrava, redundando, posteriormente, num namoro – durou algum tempo e depois se transformou em amizade.
Em meados do ano de 1995, por volta do dia 22 de agosto, estava eu arrumando as malas com destino à minha segunda participação em um evento dessa magnitude, precisamente, com destino à cidade de João Pessoa (PB), local aonde se realizaria a XV Convenção Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias, sob os auspícios de nossa associação mater – Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias (Anfip).
Como era de se esperar, dei de encontro com minha ex-namorada e, sem qualquer seqüela por conta do rompimento do relacionamento anterior, tivemos boas conversas, inclusive, ela se dispondo a dar uma de cicerone, claro, com seu novo namorado a tiracolo.
Nos passeios das idas e vindas nos intervalos das palestras, ou no horário do almoço ou do jantar, quase sempre cruzava com a ex-namorada, tempo em que, quando isso ocorria no saguão de entrada do evento, ela aproveitava para me instigar a adquirir um chaveiro que concorreria ao sorteio de um carro que ali estava exposto (corsa sedan, zerado, modelo de lançamento, motor 1.4 cilindrada). Esse sorteio foi patrocinado pela Associação Paulista dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias, sendo que o ganhador do carro seria aquele que adquirisse um chaveiro e tivesse a sorte do número premiado (cada chaveiro custava R$ 25,00 e continha um número de 001 a 999).
Às constantes sugestões da ex-namorada para compra do chaveiro, sempre respondia negativamente. Era um tal de “compra que é barato”, “compra que tu podes ganhar”, “compra que o carro é bonito”, “tu não é miserável, compra”, “são só R$ 25,00” etc. Confesso, não sei se foi pela massificação da propaganda ou pelo “aluguel do meu ouvido”, o certo é que, no dia do sorteio, não resisti à tamanha estimulação: comprei o chaveiro, apesar da quase certeza de me considerar uma pessoa sem sorte, portanto, lá se foram meus vinte e cinco reais.
É claro, como me considerava um desafortunado, não olhava para carro como os outros 998 adquirentes do chaveiro, que, por certo, sonharam com sua propriedade nos quatro dias de exposição daquele. É bem verdade, ainda que não fôssemos, nem de longe, uma daquelas pessoas que acha dinheiro em calçada alta, mesmo assim, não custava nada dar uma olhadela transversal, en passant, no objeto de nosso investimento altamente duvidoso, por isso, não lembro, mas devo ter caído nessa tentação...
Meia-noite do dia 25 de agosto de 1995, dia do sorteio. Pára o baile. O jantar será servido depois, anuncia o chefe de cerimônia.
As regras do sorteio são expostas: o primeiro número a sair do globo será o da centena, portanto, descartavam-se, de imediato, 899 ou 900 concorrentes; o segundo número sorteado seria o correspondente ao da dezena, o que redundava em permanecer sonhando apenas 9 ou 10 dos adquirentes dos chaveiros; e, por final, o terceiro número tirado do globo, por ser o da unidade, fecharia a centena, podendo o sortudo, a partir daí, soltar seus foguetes.
Roda o globo, salta a bola e anuncia o chefe de cerimônia que 899 pessoas acabaram de perder vinte cinco reais, pois saiu a centena de número 7, portanto, restavam 100 concorrentes; retornam todas as bolas ao globo, roda, roda e se extrai aquela correspondente à dezena, dando zero – eu e mais nove candidatos a proprietário do carro fomos convidados a subir no palanque do salão de festa para, à vista de todos, assistirmos, torcermos e sonharmos com a posse definitiva do veículo; pela última vez, as dez bolas foram colocadas novamente no globo, novamente rodam, rodam desvairadamente, e uma acha o buraco da saída – de soslaio, ainda que por um instante em que o mistério de sua identidade era prolongado pelo chefe de cerimônia, tive a certeza de que aquela pontinha de número me era bem familiar.
Bem, não sei por onde andava minha ex-namorada no momento do anúncio da unidade final que compôs a centena sorteada, todavia, me vi entre muitos colegas do Ceará, alguns cabisbaixos, outros com a ilusão de que “bateram na trave”, os demais, com banho de cerveja, faziam a festa com o ganhador.
Se não fosse por ter achado, no aeroporto de Miami, um mês antes, uma pochette com 89 dólares dentro, e mais, quinze dias atrás dessa viagem, ter ganhado um vale-brinde, no valor de 150 dólares, gasto naquela cidade dos Estados Unidos, talvez, no sorteio do número 702, não tivesse me considerado sem sorte – é certo, depois encontrei minha ex-namorada e tive que agradecê-la, afinal, não é todo dia que se é forçado a ganhar um automóvel corsa sedan, zerado, modelo de lançamento, motor 1.4 cilindrada, à época, no valor de R$ 13.500,00.

FIM

A secretária, a dedada e o doce

Um dia de um ano qualquer perdido no tempo, à sombra de uma mangueira, mas com vento quente na cara, e traçando algumas comidinhas e bebidas sem muitas preocupações com a vida futura, estávamos jogando conversa fora com os parentes e amigos mais próximos.
Despretensiosamente a conversa fluía suavemente, com os “causos” de cada um se revelando a todo momento e, fruto das reminiscências passadas prazerosas, as gargalhadas se ouviam paulatinamente...
É curioso, mas entre os homens sempre existe uma estória de uma certa secretária doméstica que, extrapolando as suas obrigações caseiras pertinentes, atende aos ímpetos de uma curiosidade juvenil suscitada por conversas libidinosas e pelo próprio aparecimento crescente dos desejos sexuais pré-adultos.
Corria na cidade o boato de que a secretária moradora da casa de dona Maria era uma moça formosa, não bonita, mas com alguns predicados físicos comprovados pela silhueta de seu corpo. As línguas dos fofoqueiros mais afoitos espalhavam, nos encontros mais intimistas das conversas banais dos machos, que a dita cuja também gostava de se acoitar com aventuras sexuais com os sobrinhos de dona Maria, havendo, dentre estes, inclusive, aqueles que relatavam sua própria experiência vivida no escurinho de uma noite qualquer...
Um dia, influenciado pela propagação da boataria que rodava a cidade e, principalmente, pela inveja fruto da suposta experiência gozada por um outro parente seu, o Primo resolveu tentar se aventurar, de maneira sub-reptícia, pelas imagináveis curvas da secretária.
Aproveitando o cair da noite e a tranqüilidade proporcionada pelo sono dos demais, o Primo revelou todo seu trejeito de detetive ou de ladrão quando, assuntando o ambiente que o cercava, descalço e pisando em ovos, se dirige ao recinto em que, em sono profundo, dormia a secretária.
Era evidente que a escuridão reinante no quarto não permitia qualquer semelhança com uma penumbra, o que, se assim fosse, possibilitaria usufruir, ainda que de forma precária, também da imagem do então objeto de desejo do Primo. Restava assim, procurar desvendar aquele desiderato por meio do sentido do tato.
Deitada na rede transversalmente, dormia a secretária. Sono profundo, quiçá, sonhos vãs...
Ainda que protegido pela calada da noite, todavia sem se descuidar dos esmeros pertinentes à empreitada tentadora, o Primo se aproxima do conjunto “baladeira” e secretária, e, em face da improvável, mas possível, desconfiança de ser pego, digamos, em flagrante delito, treme as mãos e palpita fortemente seu coração.
Mais que aguçado o tato, sua mão toca na rede, descendo a partir do lado inferior do punho, entretanto, a princípio, sem identificar que parte da secretária sentirá primeiro. O coração dispara, o suor chega.
Sem janela, o quarto não é só quarto, serve de despensa; encontra-se abafado. A secretária não economiza na inspiração e na respiração. O cheiro circula preso dentro do quarto, o Primo sente.
Risco calculado, impetuosidade idem. Segue-se o interstício das descobertas.
Ao que interessava, deu sorte, pois aleatoriamente o tato da mão acusou os dedos do pé; deslizou pelo pé, tocou o tornozelo, subiu pela canela, passando pelo joelho e chegando às curvas lisas da coxa prolongada e bastante separada da outra; demorou, alisou, sentiu, tirou suas conclusões e partiu...
A secretária dormindo estava, dormindo continuou, embora com ligeiros movimentos que sequer demonstravam a intenção de despertar. Bons presságios.
Aventurou-se o Primo. Invadindo terreno pecaminoso, tateou os pêlos da genitália da secretária, que teimava em manter-se afastada de seu estado normal de vontade e consciência – permanecia, quiçá, sonhando.
O anonimato da noite, o sono pesado e o sucesso de até então impulsionam o desejo desproporcional do Primo, eis que, numa volúpia momentânea, com um dos seus dedos desfere golpe crucial em direção ao centro da genitália da secretária.
Ato contínuo, não há sono que resista. A secretária, sobressaltada e apavorada, e como desperta por um balde de água fria em plena frescura noturna, toma de surpresa o braço do Primo e diz:
- Menino, que diabo de saliência é esta?
O Primo, desta feita, totalmente desarmado e já sem as devidas vantagens que o levaram até o momento imediatamente anterior àquela momentânea volúpia, saiu-se com a simplória resposta:
- Maria, aonde está a lata de doce de Buriti?

FIM

Dinheiro fácil em Brasília

Às vezes, a busca de melhorias em nossa vida nos faz nômades entre vários lugares, assim, como que perambulando à procura de lugar ao sol. E isto se apresenta mais marcante ainda quando, dentre muitas situações, se estar na idade em que, primeiro, nossos pais nos direcionam a cortar definitivamente o cordão umbilical da sustentação econômica de até então, e, segundo, quando a constituição pessoal de família nos empurra para assumir as responsabilidades atribuídas àquela.
Lembro-me que minha situação pessoal enquadrava-se perfeitamente na segunda situação, eis que, fruto de um casamento não programado, mas abreviado pela desconfiança do porvir (aliás, diga-se, fato não confirmado – mas já era tarde), enfrentei a mudança temporária, porém cheia de expectativas, do deslocamento do calor de quarenta graus de Teresina para o clima seco e de umidade sofrível de Brasília. Fui, por assim, dizer, com a cara, a coragem e uns trocados equivalentes a um salário mínimo, não mais do que isso.
Tive, como era de se esperar, deslumbramento inicial pela arquitetura e plano urbanístico diferenciado da capital do País e, depois de algum tempo, constatei a reconhecida identidade do Distrito Federal como sendo, talvez, a única cidade do mundo em que não existem esquinas (pelo menos no que tange ao seu Plano Piloto, que é, comumente nas demais cidades, o que conhecemos como centro da cidade).
Do Plano Piloto, ao que me interessava, visitei seus pontos turísticos: a Catedral de Brasília, o Congresso Nacional, o Memorial JK, a Torre, a Rodoviária etc.
Decorei os trajetos e números dos ônibus, em essência, aqueles que partiam da cidade satélite de Sobradinho (24km distante do Plano Piloto), local em que me encontrava hospedado, e chegavam na Rodoviária – nunca me perdi ou peguei a “linha” errada.
Meu primeiro contato com uma possibilidade de emprego na Capital Federal, além daqueles vislumbrados nos concursos públicos, deu-se mediante anúncios de jornais. Li vários, grifei alguns e me dirigi ao endereço de poucos.
Um dia voltei de uma entrevista de emprego um tanto quanto aborrecido e enganado, pois, além do anúncio do jornal não ter dado qualquer indicação de que o emprego era relacionado a vendas, a entrevistadora tentou-me convencer a engrossar, como vendedor, as fileiras da empresa que ela representava – não sei se tal desiderato foi por conta da identidade de meu sobrenome com o de seus ascendentes distantes, aliado, quiçá, ao seu pieguismo, ou porque ela sentiu que um economista recém-formado daria perfeitamente conta do recado como vendedor. Não foi dessa vez que me tornei vendedor, aliás, com respeito aos que abraçam tal profissão, se fosse depender dela, eu morreria!
No mesmo dia em que retornei desenganado da malfadada entrevista, percorrendo o trecho entre a Catedral de Brasília e a Rodoviária, observei um grupo de pessoas ao redor de uma mesa improvisada – eram pessoas de aparências humildes, e, àquela hora, por volta das quatro da tarde, já bastante castigadas pelos efeitos da baixa umidade brasiliense.
Pois bem, quis a curiosidade que me aproximasse, tempo em que constatei se tratar de um jogo de aposta composto de três tampinhas, cujo mérito do ganhador estaria em descobrir, após vários deslocamentos frenéticos simultâneos das tampinhas, em qual delas se encontrava uma pedrinha colocada embaixo de uma delas. À primeira vista, não restava dúvida, o lance de se descobrir qual das tampinhas guardava a pedrinha parecia evidente, principalmente porque os olheiros que circulavam ao redor da mesa, além de apontarem, sempre sopravam, nos ouvidos dos interessados na aposta, aquela tampinha premiada.
Os olhos aguçados diretamente nas tampinhas, o assédio e assessoria descarada dos olheiros, bem como a possibilidade de um ganho fácil motivaram-me a tentar materializar a sorte, cuja visualização do acerto se apresentava cristalina. No meio tempo entre tirar a mão do bolso com o dinheiro e lançar-me à sorte, ainda tive a certeza do ganho sem esforço, sem demora, pois observei o sucesso de alguns em rodadas anteriores das tampinhas.
Com acuidade, mirei o jogo das mãos deslocando as tampinhas, fixei a premiada, reservei o dinheiro do ônibus, abri um sorriso de ganhador e apostei o restante.
Quinze minutos depois, o ônibus 513 (Plano Piloto – Sobradinho) já não me levava mais, porém o que restou de minha sorte. Sentado à janela, na poltrona rígida de material durável, olhava ao além, resmungando dentro e comigo mesmo. Do além, já noite, caí na realidade – é que os olheiros estavam mancomunados com o dono da mesa, pois após apontarem a tampinha premiada, imediatamente chamavam nossa atenção soprando ao ouvido e dizendo que iríamos ganhar, tempo em que o dono da mesa, com agilidade de um gatuno, mudava a posição das tampinhas sem que nós percebêssemos. É claro, o que havia observado como sucesso de alguns em rodadas anteriores à minha, na verdade, era o falso ganho dos olheiros...
FIM