sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Os poetas

Deveriam escrever em cores,
Os poetas que falam de amores.
Deveriam escrever forte,
Aqueles que falam de morte.
E não deveriam escrever,
Os que não sabem viver.

(Obrigado, meu alter ego)

Jornada

Os meus passos são curtos e raros
Para percorrer todas as areias
Das praias daqui...
Mas os meus braços já bastam
Para nadar todo o oceano
De ondas que me levam a ti.

(Obrigado, meu alter ego)

Pensar...

Penso o que vivo...
Queria poder viver o que penso.
Mas a vida é muito simples,
E o meu pensar é muito denso.

(Obrigado, meu alter ego)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Os sapatos debaixo da cama


O ano era o de 1996. Meu primo, sem maiores preocupações como a vida, usufruía uma posição econômica privilegiada, eis que, sem os grilhões de uma vida marital, e no exercício de um cargo público com status de carreira típica de Estado, recebia mensalmente algo em torno de quarenta salários mínimos.
Por certo era um excelente salário e, ainda que meu primo vivesse em apartamento alugado, mas pelo fato de não beber e nem fumar, sobrava-lhe o suficiente para adquirir o que o capitalismo (selvagem, diga-se) lhe oferecia: produtos de marcas, claro, mas supérfluos, com certeza.
Na esteira das sobras mensais, respaldado na falsa ilusão do rendimento da poupança, e enquanto passeava em um shopping center, meu primo não conseguiu resistir a uma promoção de venda de carro novo e, assim, comprou seu segundo automóvel zero km, mesmo já tendo um outro com pouco mais de um ano de uso.
Às suas despesas rotineiras juntou-se àquela proveniente do asilo dado a uma conterrânea, cujo interesse particular era o de trabalhar para tentar alçar vôos próprios.
Por essa época, meu primo, sem motivos que o impedissem de voar, constantemente era requisitado a fazer viagens a trabalho em outras cidades do País, tempo em que, solícito, cedia seu carro mais velho (um ano e pouco de uso) à sua conterrânea, que o utilizava, com zelo, para os fins que desejasse.
Pois é, a conterrânea sabia usufruir as benesses do meu primo: curtia o carro cedido da maneira que lhe aprouvesse e, de vez em quando, surrupiava a chave do carro novo para ir trabalhar, ou sabe lá Deus o que mais. Aliás, quanto à utilização do carro novo para ir trabalhar, meu primo confessa que isto foi inovação da conterrânea...
Era fácil para o meu primo controlar, quando se ausentava, a utilização do carro novo, bastando para isto apenas fazer a devida anotação da kilometragem rodada, a ser conferida no retorno.
Entretanto, algo não batia com seu juízo quando o mesmo se deparava com seus sapatos e chinelos elegantemente desarrumados debaixo da cama, isto porque era sua praxe deixá-los sempre alinhados na borda da cama ou junto à parede. Mistério!
O primo, como quase todos os nordestinos, sempre recebia visitas em seu apartamento, e, um dia, uma delas soprou no ouvido dele que a conterrânea, muitas vezes, talvez cansada de dirigir, resolvia curtir melhor as comodidades do “próprio” apartamento.
Acuada na parede pelo meu primo-patrão, a secretária doméstica entregou o serviço completo: nas viagens do primo-patrão, a conterrânea se dizia, ao pé da letra, dona do pedaço, pois arrotava sua propriedade, recebia os amigos e namorados e, quem sabe, alegava aos seus o favor que estava fazendo em acolher meu primo como inquilino.
A conterrânea, cotidianamente, dormia em dos quartos que continha duas camas de solteiro e um colchão de sobra. Todavia, na ausência do primo e na presença dos namorados (um de cada vez, em dias diferentes, penso), era mais elementar poupar os esforços físicos inúteis de se juntar as camas, guardando-se essa energia para ser aproveitada na suíte com cama de casal, ar-condicionado, televisão, vídeo cassete e uma pizza entregue em domicílio.
Um dia, após a sessão amorosa, ela arrumou a suíte, limpou o banheiro, tirou as manchas de catchup dos aparelhos de televisão e de vídeo cassete, mas esqueceu de alinhar todos os sapatos e chinelos do primo que, quando não viajava, ali dormia...
FIM

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Maria!

Maria,
teu filho eliminou mais um.
A facadas,
desvairadas,
revoltadas,
pela luta,
de viver
ou de morrer,
aqui mesmo,
nesse inferno,
sem verão,
só inverno.
Muito frio,
na pele,
no sangue,
no prato vazio.
Você lamenta,
e se atormenta,
e chora,
e continua,
na lida,
“da vida sofrida”,
de peito aberto,
pro mundo,
pro perigo
de mais um feto,
que mais tarde,
no chão que arde,
desse país tropical,
será também, marginal.
E aos teus ouvidos,
aquelas palavras,
virarão lugar comum.
Maria,
teu outro filho
matou mais um.

Obrigado, meu alter ego

Um vôo, um desejo


Corria o final da penúltima década do Século XX, e a constância do exercício de uma rotina bancária tediosa (caixa de banco) fez meu primo tentar alçar novos vôos, quem sabe, mais prazerosos, eis que o mesmo se submete a um exame para fazer um curso de pós-graduação em administração bancária.
Concorrendo com quatro outros colegas do banco, conseguiu meu primo lograr aprovação sem maiores dificuldades, o que lhe possibilitou ausentar-se de seu domicílio por um período de dez meses consecutivos, migrando, nesse tempo, para uma outra capital distante da sua aproximadamente 4.000 km, mas com direito a um descanso de sete dias a cada pouco mais de dois meses.
Nesse tempo, meu primo já tinha passado para o lado dos casados, o que, como aplicação indireta do curso, teria que “administrar” a ausência de sua então cara-metade nesses intervalos de pouco mais de dois meses intercalados com os dos descansos.
Ainda que se avinhasse a famosa crise dos sete anos, a verdade é que, nessa época, meu primo não tinha, pelo menos aparentemente, motivos para se preocupar com a ausência bimensal do calor daquela que o acompanhava por quase oito anos.
Da despedida da primeira partida, lembrava meu primo dos olhos inchados daquela que ficou para trás, a chorar na poltrona do saguão do aeroporto, e já, desde então, contando os dias do retorno...
Enquanto meu primo se acomodava na poltrona do avião, já com a tranqüilidade de quem fazia seu segundo vôo, pensava nos momentos prazerosos vividos nos últimos dias que antecedeu sua viagem, bem como maquinava os planos para o próximo encontro com os seus e com aqueles que o esperava na cidade do curso, afinal, seriam longos dez meses sem a convivência familiar, mas tendo que aprender a dividir seu espaço com um colega de quarto, e com outros trinta, nos espaços comuns do curso.
Sustentado por seus pensamentos, meu primo curtiu a viagem de ida, sem sequer perceber as turbulências que normalmente ocorrem nas imediações do espaço aéreo entre Brasília e Goiânia – nada perturbava seus planos e convicções, e a vida lhe parecia um mar de rosas.
Dois meses se passaram rapidamente, e no natal, lá estava meu primo curtindo aqueles que lhe tinham sentimento fraternal, sentimental e íntimo.
Sete dias se passaram voando, e a obrigação do curso o fez retornar, restando-lhe, na retina, mais uma vez, a imagem de um rosto marcado pelos olhos inchados pelo choro de quem não queria ser abandonada por mais dois meses...Decola o avião, e com ele os pensamentos do meu primo relembravam os momentos vividos de maneira intensa, sem reparos.
Nos dois meses seguintes, meu primo tentou encurtar a distância com muitas ligações telefônicas: algumas não completadas; outras sequer atendidas; muitas perguntas, algumas sem respostas satisfatórias... Entre alguns momentos telefônicos de ternura e de paz, outros não terminavam bem. Imaginava meu primo que se tratava de uma suposta liberdade que, aparentemente, não o permitia ventilar qualquer questionamento... Teve início o ciclo de uma frustração iminente.
Atordoado pelas frustrações de algumas ligações telefônicas duvidosas, mas com a esperança de um acerto de contas harmonioso, meu primo encontrava-se pensativo no avião, buscando explicações que acalentassem suas expectativas, principalmente porque, em poucas horas, estaria nos braços dos seus e da sua...
Meu primo acredita que essa semana foi a mais curta, pelas expectativas da espera que as coisas acontecessem, e, ao mesmo tempo, a mais longa, pelos resultados frustrantes que recebeu das coisas não acontecidas...
No avião, de retorno pela terceira vez à cidade do curso, a dez mil metros de altura, meu primo remoia os desejos não correspondidos da semana passada: no primeiro dia, alguns carinhos comedidos incompreensíveis; no segundo dia, explicações afetivas sem justificação prática; no terceiro dia, o amor sentido sem amor...(no terceiro dia!).
O avião balançava sob a turbulência de praxe; na poltrona da janela, quase que escondendo a cara com remorso de si mesmo, meu primo aparentava um descontrole inusitado: calado com seus pensamentos, apresentava uma coragem assustadora, pois, fazendo pouco caso da turbulência aérea, vislumbrava uma possível abreviação de seu sofrimento com a queda do avião...
Três anos depois do curso, na praia e de peito pra acima, encontrava-se meu primo tomando água de côco com outras meninas, desta feita, usufruindo a liberdade individual de uma vida que não foi ceifada pela queda do avião...
FIM

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

VOTAR OU NÃO VOTAR, eis a questão!

Com tantas mazelas mostradas pelos meios de comunicação relativamente aos nossos políticos eleitos democraticamente (vale dizer, pelo voto, mas, com certeza, não pela vontade livre do eleitor), fica difícil ao verdadeiro eleitor decidir novamente por sufragar os próximos candidatos na eleição municipal de 2008.
Com a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao comando da Nação em 2002, e posteriormente, com a reeleição em 2006, me vejo sem qualquer ilusão quanto aos atuais candidatos a prefeito e a vereador. É que, embora não sendo nenhuma novidade, existe uma diferença enorme entre um candidato que esteve no palanque e aquele que exerce o cargo após ser eleito.
Eu diria que no palanque tem-se o candidato ideológico e portador das soluções para todos os tipos de problemas da Nação, do Estado e do Município. É aquele candidato que reza, ao pé-da-letra, pela cartilha do partido, sem arredar um centímetro de suas convicções e com perspectivas de resolução de todas as mazelas da população.
Ao descer do palanque e sentar na cadeira de prefeito ou de vereador, as coisas mudam – e como mudam. Já não tem uma ideologia cega a seguir, a cartilha do partido torna-se bastante costurada e adaptada à sua maneira, e as soluções vislumbradas já não se encontram diante de seus olhos, à mercê de sua vontade. É, por assim dizer, o ajuste, de forma deslavada, às condições do poder ali reinantes.
Acometidos pela vã ilusão produzida pelos marketeiros de plantão, votamos, e nos decepcionamos findo o prazo de poucos mais de dois ou três meses depois.
De quatro em quatro anos (ou de dois em dois, se considerarmos que não há uma total sincronia dos pleitos eleitorais), somos forçados (já que o voto é obrigatório) a votar novamente, e escolher uma nova ilusão... E aí sobra-nos um questionamento: o que fazer para escolher um “novo” candidato?
Penso que embora quase sempre tenhamos sido iludidos e enganados nas escolhas pretéritas, ainda assim, esses votos passados nos servem para orientar a novel escolha que se avizinha, pois, por evidência, nem sob protesto, devemos reeleger os cargos daqueles que não se coadunaram com nossas expectativas ideológicas e administrativas.
Creio que a depuração dos cargos políticos eletivos se faz exatamente pela exclusão da vida pública daqueles que não honraram, após eleitos, a plataforma política de palanque, e a maneira mais salutar, silenciosa, honesta e democrática de se exercer esse desiderato é exatamente pelo voto consciente – entenda-se, como voto consciente, não aquele que você vai dá para o candidato que te deu uma sandália, um tanque de gasolina cheio, algum dinheiro, ou mesmo um emprego, mas, aquele que você vai recompensar o candidato pelo esforço que ele teve quando fez uma boa administração no que tange à saúde, à educação, à agricultura, à infra-estrutura, às finanças etc, seja sob o ponto de vista prático, seja pelo simples fato de sua colaboração para a produção de normas que levaram a essa boa administração – e isto você reconhece quando fica antenado com as mudanças que ocorreram no seu local de moradia, no seu Estado e no País como um todo.
Infelizmente, por conta das constantes desilusões em face dos comportamentos posteriores dos candidatos eleitos, somos forçados a concluir que nosso voto não se reduz a escolher o melhor, mas, o menos ruim – e assim você deve sufragar.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O tempo seguinte

Sessenta dias e poucos
Sentimento passado
Coração sofrido
Corpo doído
Mente
Sente
Amor caído
Ano mal vivido
Tempo angustiado
Anos futuros de loucos

Sem tom

Minha porção sentimental foi embora.
Sem adeus, bateu a porta.
Meu coração bate fora
Do peito que já nem arde.
Sexo e sentimento,
Agora são coisas de marte.

Obrigado, meu alter ego

Opostos

Somos contradições,
Que se encontram num raio de olhar.
Somos caminhos,
Que se dissipam
E se cruzam
Na infinita beleza de amar.
São duas almas distanciadas,
De corpos que vivem a se tocar.

Obrigado, meu alter ego