segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Autopsicografia

Era objetivo deste blog indicar que o mesmo se restringiria a apresentar fragmentos literários (se assim podemos considerar os escritos que aqui constam) inéditos, entretanto, o cotidiano e a intenção de mérito (aquele mais do que este) por trás de cada uma de suas criações me fez amparar no vaticínio de Fernando Pessoa (Autopsicografia), que reproduzo a seguir, e que comungo, integralmente, nas linhas e entrelinhas.

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Alter ego

Meu alter ego emudeceu
De tanto medo do que não veio a ser
E o infinito que foi ou é...
Ainda teme o por vir
Que não pode ser...
E nunca deixará de existir.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ao meu alter ego

Um dia, uma emoção.
Tudo passa - o tempo,
As coisas do coração.
Mas estas, por certo,
Marcas em nós deixarão.

Faz-se o encontro.
Resgata-se o tempo
E resta, velado, no coração,
Quem sabe, a dor
Da paixão em ebulição.

Que me diz, meu alter ego?
O tempo passou, marcou...
Atrevo-me a dizer:
Não marcou, não passou,
Mas, simplesmente, enraizou.

É que quando te vejo,
Meu alter ego, o tempo,
Por mais que decorrido,
Não sarou, como desejo,
Este coração ferido.

Mais um dia, mais uma emoção;
Meu alter ego suspirou,
Disparou, imaginou...
E então, meu alter ego,
De onde vem tanto furor?