segunda-feira, 25 de maio de 2009

Bois Vert Château Blanc 5.0

Parte I

Primeiros anos
É pouco provável alguém lembrar dos seus primeiros anos de vida; não fujo à regra. Tudo que sei do período dessa idade tenra, hoje, remota, é fruto das recordações de minha mãe. Ainda assim, do pouco que ouvi, apenas me martelam a consciência duas recordações: aos dois anos pesava algo em torno de quinze quilos, sendo, por isso, alcunhado pelo avô paterno (que não conheci) por “meu chumbinho”; e que, acometido pelo paratifo (doença infecciosa próxima à febre tifóide), fiquei tão fraco que o deslocamento do vento provocado pelo voo de uma galinha era suficiente para me mandar à lona – por conta da febre extremamente alta e persistente resultante dessa doença, meu médico e amigo da família sentenciou: se esse menino não morrer, vai ficar inteligente. A meu juízo, o médico acertou uma e errou a outra!

Parte II

De Buriti dos Lopes (PI) à Parnaíba (PI)
Na visão de meu pai, nossa cidade natal já não mais permitia um desenvolvimento, quiçá, promissor à sua prole; filhos com idades entre quatro e quinze anos, pouca possibilidade de um salário mais em conta e escola precária em Buriti dos Lopes justificaram a migração para a vizinha Parnaíba, litoral do Piauí, a pouco mais de 30 km.

As casas da Rua Cel. Pacífico
Nesse período, creio, de 1962 a 1969, afloram-me várias recordações que marcaram significativamente o universo da minha memória: a primeira casa de Parnaíba (Rua Cel. Pacífico, no meio do terceiro quarteirão, do lado esquerdo, a partir da Santa Casa de Misericórdia, em direção ao Rio Igaraçu), em que meu pai, por prazer originado da cidade de Buriti dos Lopes, mantinha no quintal um pequeno curral com três cabeças de gado, de onde supria-nos a necessidade do leite (nunca gostei de leite puro, mas lembro-me que acordava cedinho para tomá-lo misturado com canela) – é interessante relembrar que, como o curral não tinha acesso ou saída diretamente para a rua, todos os dias meu pai soltava as três cabeças de gado usando a mesma porta de entrada e saída da casa, ou seja, para ir para a rua, o gado passava pela cozinha e sala da casa, até encontrar a porta de entrada/saída da casa... Nesse tempo, a rua não tinha calçamento, o que redundava num verdadeiro lamaçal durante o período das chuvas.
Os vizinhos de mesmo nome
A segunda memória era que, para desagrado de minha mãe, nossos vizinhos do lado esquerdo eram formados por uma família que, dentre outras, possuía três pessoas com o meu mesmo nome (parece-me, Caubi pai, Caubi filho e Caubi júnior). A respeito deste nome, segundo minha mãe, sua opção inicial era batizar-me pelo nome de Bievenildo; entre um e outro, resolveu minha mãe homenagear o cantor Caubi Peixoto, e, entre ambos, eu ficaria, também, apesar de não gostar, com o que hoje atendo aos chamados, mas, admito, estaria mais conformado se a homenagem fosse para o índio de uma das obras de José de Alencar (nada contra o cantor, que, aliás, admiro).

Os álbuns de figurinhas
É dessa primeira casa que me lembro, com prazer, do contato inicial com os álbuns de figurinhas, principalmente aqueles que se referiam às coleções de times e jogadores de futebol, apesar de, à época, nossos recursos serem bastante escassos para adquiri-los, sendo a curiosidade suprida pelo acesso aos álbuns dos colegas da vizinhança, com certeza, bem mais abastados. Que emoção maior existia para aquele colega que encontrava, ao abrir um envelope de figurinhas, uma que era considerada difícil, ou quando preenchia integralmente o álbum!
O boi das festas juninas
Apesar dos parcos recursos, meu pai conseguiu juntar alguma coisa, e decidiu comprar nossa segunda moradia de Parnaíba, uma casa localizada na mesma rua, do lado direito, no segundo quarteirão após a primeira. É dessa nova residência que tenho outras recordações marcantes de minha infância. Foi nela que tracei alguns passos no que tange à arte artesanal de se produzir um boi de madeira – daquele tipo em que, nas festas juninas, sua presença é indispensável; juntando uns pedaços de paus, restos de plásticos e de roupas, pregos, tábuas, forro de palha e chifre de boi, conseguia dá uma forma que muito se aparentava com um boi das festas juninas, e fazia a festa com auxílio de meu irmão, Castelo (este, durante nossas apresentações da dança do boi, se passava pela personagem “Catirina”, responsável por atazanar o boi), pois, durante dia, saíamos a procura daquelas residências que estavam dispostas a pagar uma quantia, irrisória diga-se, para assistir, em frente às suas casas, nossas apresentações folclóricas – eu, além de “produtor” do boi, era também um dos meninos encarregado de dançar debaixo do boi, e dançava direitinho, lembro e penso!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Bois Vert Château Blanc 5.0 (versão preliminar do 1º capítulo)

PRIMEIROS ANOS
É pouco provável alguém lembrar dos seus primeiros anos de vida; não fujo à regra. Tudo que sei do período dessa idade tenra, hoje, remota, é fruto das recordações de minha mãe. Ainda assim, do pouco que ouvi, apenas me martelam a consciência duas recordações: aos dois anos pesava algo em torno de quinze quilos, sendo, por isso, alcunhado pelo avô paterno (que não conheci) por “meu chumbinho”; e que, acometido pelo paratifo (doença infecciosa próxima à febre tifóide), fiquei tão fraco que o deslocamento do vento provocado pelo voo de uma galinha era suficiente para me mandar à lona – por conta da febre extremamente alta e persistente resultante dessa doença, meu médico e amigo da família sentenciou: se esse menino não morrer, vai ficar inteligente. A meu juízo, o médico acertou uma e errou a outra!