segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Minha única inveja

Desde pequeno, por volta dos doze ou treze anos, sempre nutri o desejo de aprender uma outra língua além da minha nativa. Acho que esse interesse nasceu comigo, pois, naquela idade tenra, nunca tinha tido contato com programas, filmes ou pessoas falando outras línguas diferentes, estranhas.
Lembro da primeira iniciativa que quase se concretizou nesse sentido, quando estudava a 6ª série no Instituto Elias Torres, em Teresina (PI), pois, na época, apareceu um professor de inglês que investiu numa sala do colégio, climatizando-a e dotando-a de recursos técnicos específicos para desenvolver um curso de inglês fora da grade curricular, ou seja, os alunos regulares teriam que pagar para cursá-lo; com muito jeito e, como se diz, “pisando em ovos”, consegui o “paitrocínio” para freqüentar tal curso – paguei a matrícula e, na semana do seu início, descobriram que o referido professor era um salafrário, assim, desfez-se minha pretensão e o valor da matrícula nunca foi devolvido.
Nem por isso desanimei, bem ao contrário, fiz uma verdadeira peregrinação por várias escolas de línguas em Teresina (PI) e Fortaleza (CE); iniciei alguns cursos, fazia um, dois ou no máximo três semestres e depois, por algum motivo pessoal, desistia, mas retornava um ou mais anos depois. Não sei se por causa dessa intermitência, todavia o esforço nunca foi totalmente recompensado, principalmente quando constatava minha deficiência em entender um filme, um programa ou noticiário de televisão falado em inglês.
Nessa tentativa de aprendizagem da língua inglesa, ou mesmo da francesa, em que também me meti a entendê-la, não tive a mesma sorte do falecido político e ministro Roberto Campos, vulgo Bob Fields, que relata no seu livro “A lanterna na popa” a sua dificuldade inicial em dominar o inglês – dizia ele que ia para as sessões de cinema, sentava nas últimas cadeiras, fechava os olhos e ficava se espremendo tentando compreender os diálogos dos filmes. Custou, mas ele conseguiu – eu, ainda não.
Confesso que me esforço muito para procurar entender qualquer diálogo ou música em inglês ou francês; admito até mesmo que tenho uma melhor concepção e entendimento dessas línguas quando as vejo escritas, mas a compreensão falada é um verdadeiro tormento, pois, nas suas versões cotidianas as palavras se emendam, e eu me embaralho todo, ao pé da letra, me enrolo literalmente. Entretanto, consigo me salvar quando as pessoas tentam desenvolver (o que é difícil) uma conversa em ritmo quase parado, câmara lenta, slowly, lentement, ou quando é para eu mesmo me expressar, dizer o que quero.
Por conta desse embaralho com a língua inglesa, lembro da primeira vez que fui para Europa, em 2002, quando estava passeando por Zurique (Suíça) e, casualmente, bati em uma senhora gorda e negra; ato contínuo, tentando me desculpar, soltei vários “excuse” pensando está dizendo “sorry”. Só alguns passos a frente constatei o deslize lingüístico, tempo em que lembrei da cara da senhora ao ouvir minhas “desculpas”!
Uma comparação me permite expressar o desejo que tenho em dominar essas línguas, em especial, a inglesa: adoro um carro BMW (não importa o modelo ou tipo, exceto o hatch), uma casa de praia, e, por que não, muito dinheiro, mas jamais tive ou terei inveja de quem possui esses bens, muito menos trabalharei ou juntarei dinheiro para concretizar tais pretensões; entretanto, minha única inveja, saudável, diga-se, é a relativa aos que dominam uma língua, qualquer que seja ela, inveja esta somente no sentido de tentar também aprendê-la, e só.
Em resumo, no fundo mesmo, tenho uma tremenda dificuldade em entender o que as pessoas dizem, mas consigo, de certa forma, transmitir minhas mensagens, por isso, nas voltas que já dei em torno do mundo sempre consegui escapar com meu inglês macarrônico, assim, nunca deixei de comer, beber ou transitar pelos lugares desejados, ainda que falando praticamente o the book is on the table.