terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Duty Free ou Rodoviária







Quase todos nós já utilizamos os serviços disponíveis nas estações rodoviárias de nossos municípios, e sabemos, de cadeira, o quanto eles são relevantes para as pessoas que transitam por suas dependências, principalmente quando chegam “em cima da hora” para pegar o ônibus de seu destino – quem, dentre aqueles que são contumazes desses serviços, nunca comprou um copinho d’água, um picolé, um pacote de bolacha, um chocolate, um milho verde etc, baratos, para variar, tudo, nos pontos de vendas da rodoviária, ou pela janela do ônibus, ou, ainda, pelo contato direto do vendedor no corredor do seu ônibus? E a gritaria ou animação desses vendedores, se perturba o juízo de alguns, não faz diferença para aqueles passageiros que estão esperando sua vez de embarcar?
É claro que a concorrência das companhias aéreas, reduzindo o preço dos bilhetes, e a facilidade do parcelamento na venda das passagens também promoveram um crescente aumento das pessoas que passaram a ter acesso aos serviços de transporte aeroviário, portanto, tendo aquelas o livre trânsito pelas dependências privativas de embarque, usufruindo salas refrigeradas, com silêncio quase sepulcral (esporadicamente quebrado pelo choro de uma criança ou pelo serviço de som do aeroporto) e com bens e mercadorias disponíveis à venda, caros, com certeza.
Particularmente, sempre me agradou o silencio e as comodidades das salas de espera dos aeroportos do Brasil e do mundo, em essência, os barzinhos e as pequenas livrarias ali existentes, e, porque não dizer, também o conforto de suas cadeiras; entretanto, pensava eu ser esta a conclusão comum das pessoas que por ali transitam – para meu espanto, encontrei um amigo com pensamento divergente.
Um dia, na espera de um voo internacional em Fortaleza, estava nas imediações do Duty Free quando dei de cara com um amigo, que também aguardava o vôo com destino à Europa; após as saudações de praxe, conversamos e lá pelas tantas puxamos o assunto do silêncio reinante naquela dependência – para minha surpresa, meu amigo se ressentia exatamente desse silêncio, das coisas caras à venda, dos colóquios inaudíveis das pessoas, e das ações quase em câmara lenta do vai-e-vem dos passageiros.
Eu querendo saber um pouco mais das preferências do amigo, o indaguei a respeito do porquê de tanto saudosismo do barulho, do corre-corre, do contato mais próximo e das mercadorias e serviços mais baratos, ao que ele respondeu:
- Cheguei aqui não vi um menino vendendo picolé, não vi uma discussão banal, não presenciei nenhuma correria e nenhum atropelo entre as pessoas, gritos – nem pensar, e os carregadores se oferecendo, onde estão? Cadê as coisas baratas? Sei não, meu amigo, acho que o burburinho da Rodoviária é mais divertido!
Depois dessa, fomos chamados a entrar no avião, levantamos voo para Lisboa, lá nos separamos: eu, com destino à Suíça, e meu amigo padre foi para Roma se encontrar com os seus e com o Pontífice-Mó da Igreja Católica Apostólica Romana.