segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A paixão pelo futebol


Meu amor bem particular pelo esporte bretão se delineou quando morava em Parnaíba (PI), pois meu pai gostava de ouvir as transmissões das partidas futebolísticas da capital piauiense através das estações de rádios em amplitude média (AM), as ditas Rádio AM, e ele era um torcedor árduo do então Piauí Esporte Clube, famoso na época, e então identificado carinhosamente por “Piauizão Vibrante”. Ainda que com este indicativo paterno, confesso que não consegui me decidir pelo “Piauizão”, pois, viciado pela locução esportiva, um dia ouvi pelo rádio, com a costumeira “chiadeira” de sempre, uma partida entre o River Atlético Clube e o Flamengo Esporte Clube (times da capital piauiense), cujo resultado importou na vitória deste último por dois a zero, e, daí em diante, me fez torcer pelo rubro-negro piauiense, paixão que perdura até os dias de hoje.
O carinho pelo Flamengo piauiense extrapolou divisas e me fez, com muito mais paixão, alcançar a nação rubro-negra do Flamengo carioca, principalmente, anos depois, com o surgimento de craques como Zico, Andrade, Adílio, Geraldo, Leandro, Júnior etc.
Esse amor pelo futebol cresceu assustadoramente quando da realização da Copa do Mundo de 1970, pois, sendo a primeira vez que ocorria a transmissão, via Embratel, pela televisão, pudemos assistir ao vivo o desenrolar dos nossos craques canarinhos passeando pelos gramados do México. Estavam lá, enchendo os olhos dos mexicanos e do resto do mundo, estrelas que foram eternizadas pelos torcedores, a exemplo de Jairzinho, Gérson, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto, Clodoaldo e, a maior e mais reluzente de todas, Pelé! Mesmo com apenas onze anos à época, lembro do sofrimento da primeira partida (Brasil versus Inglaterra), sofrimento esse pela dificuldade da partida em si, que terminou com a vitória canarinho por um a zero, bem como pelo desconforto da sala em que nos encontrávamos assistindo o jogo – é que, como não tínhamos televisão, o vizinho de frente de nossa casa, com cortesia, acolhia todos aqueles que não possuíam esse aparelho, o que redundava em espalhar pessoas por todos os cantos da sala, e, na ausência de cadeiras para todos, sobrava para os meninos o chão... De qualquer forma, nem a dureza do chão durante os noventa minutos da partida diminuiu a vibração que coroou a festa quando da final da Copa, logrando a Seleção Brasileira em aplicar uma sonora goleada (quatro a um) na então Seleção da Tchecoslováquia.
Assim, essa paixão pelo esporte bretão foi crescendo a cada dia, mas não se resumiu apenas em ouvir ou assistir as pelejas futebolísticas; de então, passei a ser um contumaz praticamente de tão delicioso exercício físico, a ponto de, como tal, ser este o único e confessado vício que me acompanhou por todos esses longos anos de vida. Neste sentido, todas as minhas residências da infância, adolescência e juventude sempre foram marcadas pela existência de um campinho de “peladas” (ou de várzea, para alguns) nas imediações, o que me possibilitava correr atrás da bola
e desenvolver essa arte, mesmo sem a intenção de me tornar um “craque”, mas, também, longe de me considerarem um candidato a “perna de pau” – eu diria, dei meus passes (que os atuais locutores esportivos chamam de “assistência”), fiz meus goolzinhos, pisei algumas vezes na bola (até Pelé deve ter dado suas pixotadas), acusei muitos juízes de ladrão (quando eles apitavam as “peladas”), discuti e, por certo, cheguei às vias de fato algumas vezes, mas sobrevivi, ainda que como um legítimo peladeiro.