sábado, 30 de julho de 2011

FOTOS DO LANÇAMENTO DO LIVRO "FATOS E FICÇÕES: MEMÓRIAS E CRÔNICAS"


Foto copiada do Portal Buritiense: o autor e Djalma Percy

Foto copiada do Portal Buritiense: O pai do autor (Bernardo Gregório), o autor, a mãe do autor (Ivanilde) e Bernardo Mateus, Presidente do IHAL

Foto copiada do Portal Buritiense: o autor e Bernardo Mateus, Presidente do IHAL

Maria do Rosário, o autor e Isabel

O autor e o poeta Nenem Calixto
O autor e o colega Valdir

O autor e sua Tia Rosa Portela

O autor com sua esposa, sua prima Elcira e sua Tia Rosa Portela

O autor e sua prima Elcira

Oa autor e sua prima Elcira

O autor e a amiga Margarida

O autor e um prof. do CIEF

O autor e o redator-chefe do Portal Boca do Povo

O autor e o Pe. Marcelino

O autor e o Pe. Marcelino

O autor e a jovem Morgana

O autor e a jovem Morgana

O autor e sua prima Socorro Castelo Branco

O autor, o "Cabo" e o concunhado Fabiano

O autor e Fabiano, seu concunhado

O autor e Bernildo Val

O autor e sua Tia Dalvinha

O autor e o amigo Ricardo

O autor e sua prima Aglaia

A fila para autografar o livro

O autor e Paulo César Curicaca

O autor e Djalma Percy

O autor e Gildásio, redator do Portal Buritiense

O autor e o redator do Portal Buritiense, Gildásio

O autor e o redator do Portal Buritiense, Gildásio

O pai (Bernardo Gregório) e a mãe (Ivanilde) do autor

O autor e Dadaia, chefe de gabinete da Prefeita de Buriti dos Lopes (PI)

As pessoas adquirindo o livro

O autor e Hermann Diniz

O filho do autor, Bernardo Gregório

O autor e Bernardo Lucas Mateus


LANÇAMENTO DO LIVRO “FATOS E FICÇÕES: MEMÓRIAS E CRÔNICAS”

Ontem, dia 29 de julho de 2011, às 20:30 horas, no auditório do Centro Integrado de Ensino Fundamental Dep. Moraes Sousa – CIEF de Buriti dos Lopes (PI), ocorreu o lançamento do meu livro “FATOS E FICÇÕES: MEMÓRIAS E CRÔNICAS”.

O evento contou com a participação de familiares, parentes, amigos e diversas autoridades políticas e eclesiásticas, num total estimado de 150 pessoas.

O cerimonial foi apresentado pela cantora Aline Barcelar, que além de o fazer com maestria, também fora contratada para, durante o cocktail servido após o evento, nos brindar com sua voz e violão passeando pelo repertório da Música Popular Brasileira – MPB.

Seguindo o rito do cerimonial, falaram a Diretora do CIEF, Sra. Maria do Rosário de Fátima Aquino de Sousa Rocha, o Dr. Bernardo Lucas Mateus, Presidente do Instituto de História, Artes e Letras de Buriti dos Lopes – IHAL e, por último, o autor do livro, Caubi Castelo Branco.

A Diretora do CIEF elogiou a iniciativa do autor em lançar o livro na sua terra natal, bem como se colocou, como gestora do CIEF, em prontamente garantir o sucesso da empreitada. Já o Dr. Bernardo Mateus, falando por todos os membros fundadores do IHAL, destacou as origens familiares do autor, sua distinção no Município de Buriti dos Lopes (PI), sua capacidade profissional no trabalho, bem como sua condição de filho exemplar, por tudo isto, merecendo a devida atenção a obra que ora lança em território buritiense.

As palavras deste autor foram no sentido de agradecer as manifestações da Diretora do CIEF e do Presidente do IHAL, pois, a juízo daquele, ultrapassaram carinhosamente o seu próprio merecimento, e, em breves palavras, fez um apanhado geral sobre o livro, identificando-o como um resultado de vários textos seus anteriormente publicados no seu blog na internet, e destacando que não tinha a intenção de publicar um livro – isto somente ocorreu após se dá conta que seus artigos na internet o convenceram desta possibilidade. Ressaltou, ainda, que as memórias são efetivamente frutos dos fatos de sua vida, mas as crônicas são apanhados do cotidiano das pessoas (inclusive suas), entretanto, algumas delas são meramente fruto de sua imaginação criativa, portanto, ficções. Agradecendo e enaltecendo as presenças de todos e todas, este autor disse, por final, que se sentia privilegiado com um quorum tão marcante, e que isto era sua maior gratificação naquele momento, e lembrou que, segundo um princípio filosófico bastante comum, só lhe faltava, agora, plantar uma árvore, pois o livro e o filho já estavam à vista de todos.



sábado, 16 de julho de 2011

AOS CONTERRÂNEOS DE BURITI DOS LOPES (PI) - LANÇAMENTO DE LIVRO




Estarei lançando dia 29 de julho de 2011, às 20:30 horas, no auditório do Centro Integrado de Ensino Fundamental – CIEF de Buriti dos Lopes (PI), o meu primeiro livro, intitulado “Fatos e Ficções: Memórias e Crônicas”.

O livro aborda um conjunto de pequenas memórias, que vão de minha infância mais remota até a alguns fatos corridos num passado mais recente, bem como algumas crônicas que se reportam aos fatos do meu dia-dia, e outras que são fruto da minha atividade puramente ficcional, vale dizer, um exercício de minha capacidade imaginativa de criar.

Penso que, talvez, o evento seja um acontecimento ímpar em Buriti dos Lopes (PI), pois não tenho conhecimento de que algo semelhante tenha ocorrido nessa municipalidade.

Desta forma, espero contar com a presença dos familiares (em especial), amigos e pessoas interessadas em evento cultural e literário como este.

Espero vocês lá!


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Madalena P



38, um revólver velho. Munição: duas balas, idem.
29 anos, loiríssima, esguia, lábios quase carnudos, e que com cheirinho importado, salto alto e batom vermelho provocaria mais atenção, dos homens mais - bonita, diga-se, mas sem maturidade: Madalena P.
32 anos, funcionário público estadual dedicado, estudioso, visionário, sem maiores predicados e com uma paixão mórbida que escurece suas possibilidades: Raimundo Antônio, RA.
Pequena, interiorana, temperatura beirando os 17 graus centígrados, portanto, propícia ao acasalamento, e onde as pessoas usam as calçadas para prosear o dia-a-dia, multiplicando os efeitos do que ouvem e do que veem, sem cerimônia, o boato: uma cidadezinha qualquer.
Confidente casual, sem problemas psicológicos, quando demandado a filosofar ou a aconselhar não conhece o eufemismo das palavras, avalia o futuro próximo, com os próximos: meu primo.
O modernismo contemporâneo permite RA dividir o mesmo teto com Madalena P, e dizem que se amam...
Um fato, ou quase fato, pois as calçadas propagaram uma porta entreaberta, por onde um terceiro adentrou no frio do dia, e Madalena P não gritou.
As calçadas replicaram mais um fato noutro dia, o mesmo terceiro, menos mal...
Demandado, meu primo sentencia:
– Afaste-te, ainda é tempo, sem demora.
Acossada num canto, Madalena P não negou, mas com encanto convenceu RA a acreditar num invisível “cinto de castidade” daí em diante; ele capitulou.
No três em um do canto do quarto, Madalena P fez suas as palavras de Chico Buarque e Francis Hime:

"Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei

Me debrucei sobre teu corpo e duvidei

E me arrastei e te arranhei

E me agarrei nos teus cabelos

Nos teu peito, teu pijama

Nos teus pés ao pé da cama

Sem carinho, sem coberta"

Raimundo Antônio não viu ou sentiu a noite passar, e nesta noite da confissão e do convencimento o amor transbordou, e assim, o seu nirvana particular.
Tempo de amor o que decorreu sem se ouvir as vozes das calçadas, ou sem querer percebê-las com os ouvidos de um tísico.
Os fartos ventos das calçadas, bem ao contrário, atiçaram o calor de RA, que, de mãos para trás e comedido a remediar sua honra, encostou Madalena no canto: quantas vezes mais?
Cabisbaixa, um gesto forçado com dois dedos em símbolo de “V” e um olhar choroso foram tudo que Madalena encenou ajoelhada, cheia de pieguismo.
No átimo de tempo seguinte, por um instante secular, Raimundo Antônio inteirou-se do passado vivido mas não suficientemente observado:
– Ban...
Restou um revólver, velho, repita-se, e uma bala, idem: a outra, alojou-se no coração de RA.
A convivência marital já não mais necessita de papel, e Madalena P conforma-se com o espólio e os frutos mensais do porvir.
A tempo, já não era sem, o terceiro começou a sentir as vozes das calçadas: foi o quarto? não! o quinto, quem sabe!
E meu primo? Não, não tinha mais amigo para aconselhar, e limitou-se a ouvir as vozes das calçadas...
FIM

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Minha única inveja

Desde pequeno, por volta dos doze ou treze anos, sempre nutri o desejo de aprender uma outra língua além da minha nativa. Acho que esse interesse nasceu comigo, pois, naquela idade tenra, nunca tinha tido contato com programas, filmes ou pessoas falando outras línguas diferentes, estranhas.
Lembro da primeira iniciativa que quase se concretizou nesse sentido, quando estudava a 6ª série no Instituto Elias Torres, em Teresina (PI), pois, na época, apareceu um professor de inglês que investiu numa sala do colégio, climatizando-a e dotando-a de recursos técnicos específicos para desenvolver um curso de inglês fora da grade curricular, ou seja, os alunos regulares teriam que pagar para cursá-lo; com muito jeito e, como se diz, “pisando em ovos”, consegui o “paitrocínio” para freqüentar tal curso – paguei a matrícula e, na semana do seu início, descobriram que o referido professor era um salafrário, assim, desfez-se minha pretensão e o valor da matrícula nunca foi devolvido.
Nem por isso desanimei, bem ao contrário, fiz uma verdadeira peregrinação por várias escolas de línguas em Teresina (PI) e Fortaleza (CE); iniciei alguns cursos, fazia um, dois ou no máximo três semestres e depois, por algum motivo pessoal, desistia, mas retornava um ou mais anos depois. Não sei se por causa dessa intermitência, todavia o esforço nunca foi totalmente recompensado, principalmente quando constatava minha deficiência em entender um filme, um programa ou noticiário de televisão falado em inglês.
Nessa tentativa de aprendizagem da língua inglesa, ou mesmo da francesa, em que também me meti a entendê-la, não tive a mesma sorte do falecido político e ministro Roberto Campos, vulgo Bob Fields, que relata no seu livro “A lanterna na popa” a sua dificuldade inicial em dominar o inglês – dizia ele que ia para as sessões de cinema, sentava nas últimas cadeiras, fechava os olhos e ficava se espremendo tentando compreender os diálogos dos filmes. Custou, mas ele conseguiu – eu, ainda não.
Confesso que me esforço muito para procurar entender qualquer diálogo ou música em inglês ou francês; admito até mesmo que tenho uma melhor concepção e entendimento dessas línguas quando as vejo escritas, mas a compreensão falada é um verdadeiro tormento, pois, nas suas versões cotidianas as palavras se emendam, e eu me embaralho todo, ao pé da letra, me enrolo literalmente. Entretanto, consigo me salvar quando as pessoas tentam desenvolver (o que é difícil) uma conversa em ritmo quase parado, câmara lenta, slowly, lentement, ou quando é para eu mesmo me expressar, dizer o que quero.
Por conta desse embaralho com a língua inglesa, lembro da primeira vez que fui para Europa, em 2002, quando estava passeando por Zurique (Suíça) e, casualmente, bati em uma senhora gorda e negra; ato contínuo, tentando me desculpar, soltei vários “excuse” pensando está dizendo “sorry”. Só alguns passos a frente constatei o deslize lingüístico, tempo em que lembrei da cara da senhora ao ouvir minhas “desculpas”!
Uma comparação me permite expressar o desejo que tenho em dominar essas línguas, em especial, a inglesa: adoro um carro BMW (não importa o modelo ou tipo, exceto o hatch), uma casa de praia, e, por que não, muito dinheiro, mas jamais tive ou terei inveja de quem possui esses bens, muito menos trabalharei ou juntarei dinheiro para concretizar tais pretensões; entretanto, minha única inveja, saudável, diga-se, é a relativa aos que dominam uma língua, qualquer que seja ela, inveja esta somente no sentido de tentar também aprendê-la, e só.
Em resumo, no fundo mesmo, tenho uma tremenda dificuldade em entender o que as pessoas dizem, mas consigo, de certa forma, transmitir minhas mensagens, por isso, nas voltas que já dei em torno do mundo sempre consegui escapar com meu inglês macarrônico, assim, nunca deixei de comer, beber ou transitar pelos lugares desejados, ainda que falando praticamente o the book is on the table.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

As aprovações em concursos públicos

Se pudéssemos estipular o tempo de estudo numa unidade de medida a ser identificada como “Bunda Cadeira Hora (BCH)”, eu diria que meu tempo seria um tanto quanto quilométrico, isto exatamente pelo que deixei de usufruí-lo mais prazerosamente em face de estar constantemente “queimando” pestanas consumindo livros, apontamentos, apostilhas e, claro, muitos bizus (macetes, dicas).
Contrariando as opiniões de muitos dos meus familiares, parentes e alguns amigos, nunca me julguei uma pessoa dotada de inteligência, mas, para contrabalançar tal deficiência, admito ter me esforçado, talvez, um pouco mais que o suficiente para conseguir o que sempre busquei após a conclusão do curso superior: uma vaga no serviço público federal. Neste sentido, me julgava e me julgo ainda apenas uma pessoa esforçada – nada mais!
Nunca fui de buscar esse meu desejo específico pela via mais curta mediante o patrocínio de um padrinho político, que, usando dessa “arma” em troca de voto, me “catapultasse” à condição de servidor público. Preferi o caminho mais penoso, sem dúvida, entretanto, mais honrado e seguro, com certeza.
Assim, “queimando” muitas pestanas, portanto, perdendo muito sono, atravessei centenas e centenas de dias e noites (quando não trabalhava ainda) e outras várias centenas de noites (quando obtive o primeiro emprego, mas não o desejado) cumprindo a cartilha de quem não queria se submeter ao jugo político de quem quer que fosse: estudando para tudo que era concurso público municipal, estadual ou federal, de preferência, mas sem perder o foco, para aqueles que exigiam a graduação superior.
Sacrifiquei muitas atividades prazerosas, deixei de ver muitos programas interessantes e, parece estranho, adorava quando chegava um final de semana ou feriado, pois aproveitava os dias mais prolongados “enfiando” a cara nos livros.
Nesse investimento pessoal obtive muitas aprovações em concursos públicos, algumas, é verdade, me deixaram apenas a vã expectativa de um direito que não se materializou; outras me permitiram a escolha do que eu considerava de melhor para mim, quer seja não assumindo o cargo, quer seja trocando aquele que exercia no momento – nesta escolha, coeteris paribus, considero que acalmei meu ímpeto no que hoje faço como auditor-fiscal da Receita Federal do Brasil.
Assim, no sentido de incentivar aqueles ou aquelas que se encontram hoje na mesma situação que me encontrava outrora, listo, a seguir, os concursos públicos em que logrei êxito após uma quilométrica BCH: Agente da Polícia Federal, em 1980 (aprovado em todas as etapas que precederam a entrevista – vide, neste livro, a memória “Um quase ex-agente da Polícia Federal” – mas reprovado na dita cuja); Técnico do Tesouro Nacional – TTN, em 1985 (fui chamado em 1986 para assumir em Brasília – fiz as contas financeiras e decidi permanecer no BEP); Auxiliar Administrativo do Banco do Estado do Piauí – BEP, em 1985 (assumi em agosto de 1985, em Floriano – PI, e pedi demissão em março de 1991, já trabalhando em Teresina – PI); Fiscal de Contribuições Previdenciárias, em 1985 (de nível superior, por problemas judiciais, fui chamado para o treinamento somente em janeiro de 1993, sendo nomeado para o cargo em junho de 1993); Oficial de Justiça Avaliador da Justiça Federal, em 1987 (de nível superior, aprovado em 5º lugar, mas somente nomearam os três primeiros lugares); Fiscal de Cadastro e Tributos Rurais do INCRA, em 1987 (de nível superior, o resultado foi divulgado em 1989 e passei em 1º lugar empatado com uma outra pessoa, e, duas semanas depois, o INCRA foi extinto – depois, se a memória não me falha, os aprovados nesse concurso foram aproveitados noutro Órgão); Técnico de Controle Externo do Tribunal de Contas da União, em 1989 (nível superior, em Fortaleza – CE, mas nunca me chamaram porque não obtive uma boa classificação); Fiscal de Tributos Estaduais do Mato Grosso, em 1990 (de nível superior, aprovado na primeira etapa, mas não fiz a segunda); Fiscal de Tributos Municipais da Prefeitura de Teresina – PI, em 1991 (aprovado em 3º lugar, fui chamado neste mesmo ano e lá trabalhei até junho de 1993, quando pedi demissão); e Fiscal de Tributos Federais, atualmente Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, em 1991 (de nível superior, fui convocado para fazer o treinamento em setembro de 1993, mas, com já era Fiscal de Contribuições Previdenciárias lotado em Fortaleza – CE, decidi não fazer o treinamento, pois após sua conclusão iria ser lotado numa cidade do interior do Norte do país ou na fronteira, e, como os salários dos dois cargos eram equivalentes, não compensaria a troca, ainda que esse fosse o cargo que sempre tivesse almejado). Resumindo o resultado final dessa peregrinação, e em termos mais atuais, assumi o cargo de Fiscal de Contribuições Previdenciárias junto ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS em junho de 1993, exercendo as atribuições desse cargo até abril de 2007, quando, de maio de 2007 em diante, passei à condição de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil por força da fusão da Secretaria da Receita Federal com a Secretaria da Receita Previdenciária, surgindo daí a nova Secretaria da Receita Federal do Brasil – RFB (Lei n.º 11.457, de 16 de março de 2007).

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Duty Free ou Rodoviária







Quase todos nós já utilizamos os serviços disponíveis nas estações rodoviárias de nossos municípios, e sabemos, de cadeira, o quanto eles são relevantes para as pessoas que transitam por suas dependências, principalmente quando chegam “em cima da hora” para pegar o ônibus de seu destino – quem, dentre aqueles que são contumazes desses serviços, nunca comprou um copinho d’água, um picolé, um pacote de bolacha, um chocolate, um milho verde etc, baratos, para variar, tudo, nos pontos de vendas da rodoviária, ou pela janela do ônibus, ou, ainda, pelo contato direto do vendedor no corredor do seu ônibus? E a gritaria ou animação desses vendedores, se perturba o juízo de alguns, não faz diferença para aqueles passageiros que estão esperando sua vez de embarcar?
É claro que a concorrência das companhias aéreas, reduzindo o preço dos bilhetes, e a facilidade do parcelamento na venda das passagens também promoveram um crescente aumento das pessoas que passaram a ter acesso aos serviços de transporte aeroviário, portanto, tendo aquelas o livre trânsito pelas dependências privativas de embarque, usufruindo salas refrigeradas, com silêncio quase sepulcral (esporadicamente quebrado pelo choro de uma criança ou pelo serviço de som do aeroporto) e com bens e mercadorias disponíveis à venda, caros, com certeza.
Particularmente, sempre me agradou o silencio e as comodidades das salas de espera dos aeroportos do Brasil e do mundo, em essência, os barzinhos e as pequenas livrarias ali existentes, e, porque não dizer, também o conforto de suas cadeiras; entretanto, pensava eu ser esta a conclusão comum das pessoas que por ali transitam – para meu espanto, encontrei um amigo com pensamento divergente.
Um dia, na espera de um voo internacional em Fortaleza, estava nas imediações do Duty Free quando dei de cara com um amigo, que também aguardava o vôo com destino à Europa; após as saudações de praxe, conversamos e lá pelas tantas puxamos o assunto do silêncio reinante naquela dependência – para minha surpresa, meu amigo se ressentia exatamente desse silêncio, das coisas caras à venda, dos colóquios inaudíveis das pessoas, e das ações quase em câmara lenta do vai-e-vem dos passageiros.
Eu querendo saber um pouco mais das preferências do amigo, o indaguei a respeito do porquê de tanto saudosismo do barulho, do corre-corre, do contato mais próximo e das mercadorias e serviços mais baratos, ao que ele respondeu:
- Cheguei aqui não vi um menino vendendo picolé, não vi uma discussão banal, não presenciei nenhuma correria e nenhum atropelo entre as pessoas, gritos – nem pensar, e os carregadores se oferecendo, onde estão? Cadê as coisas baratas? Sei não, meu amigo, acho que o burburinho da Rodoviária é mais divertido!
Depois dessa, fomos chamados a entrar no avião, levantamos voo para Lisboa, lá nos separamos: eu, com destino à Suíça, e meu amigo padre foi para Roma se encontrar com os seus e com o Pontífice-Mó da Igreja Católica Apostólica Romana.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Conjunto Ipê II, Buenos Aires

Não, meu caro leitor, eu não vou fazer reminiscências à capital da Argentina, mas ao bairro de Teresina (PI) em que morei num apartamento por quase cinco longos anos, cuja localização encontra-se no fim da linha de quem vai para a zona norte daquela cidade – de lá não se vai a mais lugar nenhum, exceto se o desbravador da região “engatar” uma ré!
À época casado e morando com os pais, mas querendo um espaço privativo para a convivência marital, adquiri o referido apartamento de um então colega do Banco do Estado do Piauí S. A. (BEP) por um preço módico, e o fiz pensando, no mínimo, em possuir um espaço físico que contivesse as condições adequadas para desenvolvimento de uma família.
É certo que era um teto com dois pequenos quartos, uma sala razoável (comparativamente aos quartos), um banheiro social, uma cozinha minúscula ligada a uma dependência e a um banheiro de empregada menores ainda, portanto, fisicamente, era uma moradia que deveria, sem maiores problemas, atender o gosto de qualquer pessoa menos criteriosa.
Ocorre que somente a convivência em seu interior poderia revelar as mazelas de suas entranhas, vale dizer, os problemas do cotidiano de quem vive em condomínio, principalmente em conjuntos habitacionais mal construídos.
Qual foi minha surpresa quando, dias depois da mudança, me vi na necessidade de cuidar do asseio individual noutras residências familiares longe do apartamento de Buenos Aires, pois, abrindo a torneira do chuveiro, nem por milagre a água caía, por razão simples: a água da Agespisa (Água e Esgotos do Piauí S. A.) que vinha da rua não conseguia subir para a caixa d’água do prédio. Para completar a penúria, procurando o síndico para resolver a pendenga, tive a informação de que o condomínio encontrava-se acéfalo – foi um passo forçado para minha primeira e única experiência de administrador de condomínio!
Num ato de desespero impensável, e para evitar andar com uma lata na cabeça pegando água onde ela existisse fora do prédio, resolvi assumir as funções de administrador do condomínio como síndico; ação imediata foi construir uma cisterna na entrada do prédio e adquirir uma bomba submersa, para que a mesma fizesse a função de levar a água da cisterna para a caixa d’água do condomínio – o sucesso foi imediato, mas de certa forma, continuou a mazela, mais espaçosamente, pois o problema retornava quando a bomba apresentava algum defeito e tínhamos que retirá-la para levar ao conserto, o que demorava algum tempo.
Construído sem qualquer qualidade, o condomínio Ipê II revelava seus defeitos a cada dia que o tempo passava, e o meu apartamento não era diferente. Um desses defeitos era a precariedade das instalações hidráulicas e sanitárias, e o exemplo disso foi um pinga pinga proveniente do banheiro social de cima do nosso apartamento; lembro que toda vez que esse banheiro era usado, o nosso ficava interditado em face do fedor que exalava, e isto durava dias – só com muito esforço conseguimos resolver o problema com a anuência da vizinha de cima.
Por conta da falta d’água constante, lembro-me de uma cena folclórica patrocinada por meu vizinho da porta de frente. Chicão, um trabalhador bon vivant, motoqueiro, gente boa e apreciador contumaz da cannabis, um dia, chegando por volta das oito horas da noite, um pouco lombrado, resolveu, como era normal, tomar aquele banho, mas, desenganado pela inexistência de uma gota sequer de água no chuveiro, desceu com um balde na mão para pegar água na torneira que existia na entrada do prédio; ao encontrá-lo esperando o balde encher, interroguei-o:
- E aí, Chicão, tudo bem?
- Tudo bem é uma porra! Como pode um trabalhador voltar para casa, tentar um banho e porra nenhuma de água! Isto sim é que falta de respeito com uma pessoa, e não simplesmente deixar de se pagar o condomínio.
Relembro que eu era o síndico, mas nem por isso me senti ofendido, pois, no fundo, ainda que tenha me esforçado para a água não faltar, a verdade é que ela faltou, para mim e também para o Chicão! Já no meu apartamento, comentei o fato com minha então esposa, e foi uma risada só, pois ela conhecia o jeitão do Chicão.
Como relatei anteriormente, o Chicão era acostumado a “dar um pau na macaca” e, mesmo contrariando sua namorada, ele persistia em usar e abusar da “erva”. Um determinado dia, após uma noite barulhenta, encontrei o Chicão na saída de seu apartamento e observei que ele apresentava várias manchas escuras nos seus braços e pescoço; indaguei o que havia acontecido, ao que ele respondeu ter caído da cama. Não achei muito convincente, o que se revelou pertinente quando, minutos depois, encontramos com a namorada dele saindo do apartamento, e, em conversa amistosa, perguntamos para ela que barulho horrível fora aquele da noite passada – ela, sem cerimônia, revelou que aproveitava quando o Chicão estava lombrado para dar-lhe uma surra com auxílio de um chinelo, cinturão ou qualquer coisa que servisse para tal intento... Bem, concluímos que o Chicão não caiu da cama, mas a própria casa havia caído em cima dele!
Em frente ao nosso prédio existia um outro do mesmo jeito e tamanho, e que tinha em comum, além da aparência decaída, o fato de as entradas situarem uma de frente da outra, portanto, o que facilitava uma amizade de condôminos. Desse prédio vizinho destaco uma moradora que, apesar de ser bibliotecária, portanto, de nível superior, e funcionária pública estadual, quando do censo que fechou a década de oitenta, simplesmente se negou a abrir a porta de seu apartamento ao recenseador porque desconfiava que o Collor de Mello pretendesse diminuir seu salário! Por mais que eu tenha tentado convencê-la do contrário, passei em branco, e ela não entrou na população brasileira daquela década.
Como esquecer a cena mais estarrecedora que já presenciei na vida! Qual? Da janela do segundo andar do meu apartamento, num final de tarde, ao olhar para uma área existente entre dois outros prédios vizinhos, vi (e quase não acreditei) duas crianças, de idades entre cinco e seis anos, praticando a felação – e o pior, como conhecia uma delas e seus pais, tive, com muito jeito, de fazer a ingrata e deprimente comunicação ao pai do que havia presenciado. Este, polidamente, mas com um sorriso amarelo a descolorir seu rosto moreno, resignou-se a agradecer e, no meu imaginário, ficando as expectativas das devidas correções.
Mas a pior visão do prédio não era a da sua aparência externa nem da sua entrada (na época das chuvas tínhamos que praticamente subir pelas paredes para não pisar no lamaçal que se formava na sua porta única); é que ao lado existia um campo de futebol, onde joguei várias vezes quando solteiro, mas que, de lá, olhando-se para os prédios do Condomínio Ipê II, a visão era de deprimir: nas suas janelas formavam-se um verdadeiro varal coletivo, fotografia perfeita de um cortiço!
Particularmente, não sei o que foi pior, se residir num apartamento com tantos problemas, ou, mesmo assim, aproveitando a calada da noite para dormir em suas dependências (calma, diga-se), voltar o pensamento constante para o exercício massificante, como caixa bancário do BEP, nos dias seguintes. Difícil definir qual a pior escolha.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A casa da Rua Dr. Raimundo da Paz

Com muito esforço e auxílio do seu patrão, meu pai comprou uma casa localizada no Bairro dos Noivos, em Teresina (PI), nas proximidades onde hoje está localizado o Teresina Shopping. Um terraço com jardim, três bons quartos, uma sala grande, uma cozinha modesta (que logo foi aumentada por imposição de minha mãe), uma dispensa e apenas um banheiro social pequeno (no fundo do quintal existia um outro banheiro mais modesto ainda) foi onde moramos por um longo tempo, aproximadamente vinte anos.
Quando chegamos neste local, bem na frente da casa existia uma pequena área descampada (hoje é uma praça), que aproveitamos, eu e os moleques da vizinhança, para transformá-la em um campinho de peladas diárias; como no mesmo não existia grama, era areia fina e quase preta, após as peladas, ao retornar para minha casa, vínhamos parecendo um tição, de tão preto, ao que minha mãe retrucava para não entrarmos pela porta principal, mas pelo corredor que exista na lateral da casa – nas palavras de minha mãe, eu parecia o “cão quando vinha do inferno!”
Dúvida não há de que, dessa residência, as lembranças mais fortes são aquelas ligadas às peladas do campinho da frente, bem como as que passaram a ocorrer quando a empresa Veículos e Motores S.A - Vemosa resolveu colocar à disposição da comunidade o seu campo de futebol localizado na Avenida João XXIII, em frente ao prédio da empresa e pertinho de nossa casa. Neste campo eu consegui organizar e fazer vários campeonatos de peladeiros e, além de presidir esses campeonatos, particularmente tinha também meu próprio time, o Internacional, que rivalizava-se “no pau” com o Cruzeiro da Rua Pereira da Costa, vizinha à nossa (time organizado e mantido pelos amigos Paulo e Flávio (vulgo “soim”), irmãos do locutor esportivo de rádio Odílio Teixeira. O interessante desses campeonatos é que, quando comecei a organizá-los, nós éramos moleques de doze a dezesseis anos, mas os goleiros poderiam ser de qualquer idade, pois as traves do campo eram de tamanho quase oficial, portanto, um moleque não daria conta de fechar a baliza.
Posteriormente, quando já “crescido”, com mais de dezesseis anos, passei a organizar esses campeonatos para times adultos, e os mesmos ultrapassaram os limites do Bairro dos Noivos, pois passou a contar com times de outros bairros, a exemplo dos Bairros de Fátima, Piçarra, São João (o chamado “Macacal”), Piçarreira e Satélite. A fórmula era simples: contribuição financeira inicial de cada time para bancar os custos de aquisição das taças (campeão, vice e goleador) e outra contribuição, meio a meio por time, a cada jogo, para bancar o valor da arbitragem do juiz.
Dos peladeiros mais contumazes, minhas lembranças se reportam aos goleiros Júnior (vulgo ”Pirão”) e Raimundinho da dona Neide (vulgo ”Odélio”), ambos com boas e importantes defesas, mas, muitas vezes, ficaram marcados pelos “frangos” homéricos que “engoliram”; desses dois, o “Odélio” parecia sentir mais os efeitos dos “frangos”, pois quando isto acontecia era difícil convencê-lo a voltar a jogar nas partidas seguintes – o tempo, para ele e para os torcedores de seu time, era o remédio para o esquecimento de sua desgraça.
Se até os jogos oficiais, com árbitros que estudam e se formam especificamente para a profissão, acontece falhas berrantes, como então no nosso tempo isto também ia deixar de acontecer? Claro que ocorreram muitas falhas desses “juízes de várzea”, e o problema ganhava dimensões geométricas quando os erros aconteciam favorecendo meu time (e eu, o organizador do campeonato), aí, sabe como é, o coro era quase unânime em me acusarem, de forma direta, em tentar persuadir o “árbitro” – confesso, sem qualquer peso de consciência, que nunca tive ou pretendi qualquer vantagem defesa perante aqueles colegas “juízes”, muito menos promovi qualquer interesse particular que viesse prestigiar outro time.
Dessa época me vem à lembrança os esforços pessoais e coletivos que fazia para comprar as camisas do time: fazia rifa, pedia uma modesta contribuição dos colegas peladeiros (a grande maioria deles tão pobre quanto eu) e, quando reunia os recursos suficientes, comprava as camisas brancas (a mais barata possível), o tintol vermelho (para tinturá-las) e a tinta acrilex branca para eu mesmo desenhar o escudo do Internacional e, por final, para forçar a contribuição, quem sempre começava jogando (os onze escalados) eram aqueles que haviam contribuído para o custeio das camisas. Se não me falha a memória, uma única vez conseguimos as camisas doadas por um terceiro, acho, Armazém Paraíba; afora essa vez, tudo era fruto de nossos próprios esforços pessoais, juntando migalhas de um e de outro.
Foi o melhor período de minha adolescência, sem dúvidas!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mulheres, ah! as mulheres

Um dia desses qualquer, de um tempo perdido no tempo, meu primo meteu-se a filosofar sobre as atribulações de seu ser relativamente ao conforto sentimental desejado pelas mulheres que entraram, saíram e, por certo, entrarão no seu universo cotidiano de macho “pegador”.
Espichado numa rede de tucum, sob à sombra de um cajueiro, meu primo ora se queixava dos percalços das limitações de uma convivência comum com uma (única, diga-se) mulher em um mesmo teto, ora se lembrava dos encantos que o sexo oposto trazia ao deleite do seu corpo quando livre para voar, sem obrigações e com muitas tentações à vista...
Pesando e sopesando os argumentos das queixas e das lembranças, meu primo, um tanto quanto desolado, lamentava a carência de qualquer prescrição para um porvir que lhe apaziguasse o ego, pois, quanto aos seus percalços, apesar de já desde o início as limitações da convivência indicarem a mesmice de um cotidiano simplório, ainda assim ela lhe trazia o conforto de uma “paz” social livre das possíveis vicissitudes da liberdade desregrada; todavia, quanto aos encantos dos livres sexos opostos, meu primo vislumbrava o prazer de cada descoberta, desde o primeiro contato, as tentativas, os erros e acertos, e a intimidade comum posterior que quase sempre daí redundava – entretanto, mesmo neste precário nirvana temporário, ele não descuidava de apontar o chamado “the day after”, e aqui residia sua interrogação: quem vai cuidar de mim quando meu corpo já não se conformar mais com as seqüelas dos anos passados?
E eu, no meu canto, pensativo, murmurando e ruminando com minhas próprias convicções, ora pendia para as queixas dos percalços, por sua vida mais duradoura e pela possibilidade de um amparo à velhice, ora para as lembranças dos encantos do sexo feminino em variedades, embora, quase sempre, volúveis...
Balançando em sua rede, vez por outra, com a visão perdida no horizonte, meu primo parecia afogado em suas próprias dúvidas atrozes – homem de meia-idade, econômico e profissionalmente equilibrado – eis que não conseguia identificar firmemente sua posição civil; por conta disso, bufava, ensimesmava-se e se via enublado pela fumaraça do seu cigarro.
Resignando-me a saber o veredicto do destino filosófico de meu primo, diga-se, sobre o qual ele chegou a respeito de si mesmo, não resisti a perguntar-lhe:
- E então, meu primo, vai decidir se conformar com as queixas ou os encantos variados do sexo oposto te seduziram?
Ato contínuo, amparado por um estalo iminente desabrochado imediatamente após a última baforada do cigarro, meu primo filosofou:
- Sei não, primo, acho que vou rezar e esperar aquela que, demandada pela oferta de uma queixa sem lembrança, garanta-me que, da porta para fora, não lhe interessa o que eu faça, desde que, da porta pra dentro, não lhe falte nada.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O último será o primeiro

Já relatei em crônica anterior (A sorte da ex-namorada) que não me considero uma pessoa de sorte, ou pelo menos, de muita sorte; acresce que alguns acontecimentos têm teimado em apontar para a negação dessa afirmação, como o caso a seguir transformado nesta crônica.
Com a fusão da Secretaria da Receita Federal com a Secretaria da Receita Previdenciária houve a necessidade da concentração da, a partir de então, Secretaria da Receita Federal do Brasil em um único local, o que, pela estrutura já montada, redundou na transferência dos auditores-fiscais antes lotados na sede do INSS da Rua Pedro Pereira, para a sede da antiga Receita Federal, localizada à Rua Barão de Aracati esquina com Rua Pereira Filgueiras.
De estacionamento diminuto, aos usuários que quisessem usufruir da comodidade de certa segurança para os de seus meios de transportes, havia a necessidade de se chegar com bastante antecedência ao local de trabalho, o que implicava em reduzir o horário do sono matinal em, pelo menos, quinze minutos, e o do almoço em quase meia hora, este, para aproveitar as vagas dos funcionários que saiam às treze horas.
Como se sabe, o transporte particular, ainda que com a frescura do ar condicionado, não evita o estresse do dia-a-dia, mormente quando se tem conhecimento das precárias condições das vias públicas de Fortaleza (CE), seja pelas suas quantidades e dimensões, ou, o que é pior, pela educação de nossos motoristas. O resultado desse cotidiano massificante não poderia ser outro: estresse em alta, eis que, no meu caso, embora com uma pequena distância diária a percorrer, algo em torno de doze quarteirões, ou mil e duzentos metros, aliada ao horário do rush, gastava quase vinte minutos para cumprir esse trecho.
Restou-me, então, para evitar aquela doença, adquirir um imóvel nas proximidades do local do trabalho, o que fiz em suaves vinte e seis prestações – da minha sala de labor, pela janela do quarto andar, tive o prazer de acompanhar, diuturnamente, a partir do esqueleto da quinta laje, o que seria, ao final, com sucesso, um espigão de vinte e dois andares com quarenta e quatro unidades individuais.
Os termos contratuais da aquisição do imóvel tinham uma particularidade inovadora relativamente à comercialização desse tipo de produto: no dia da inauguração do prédio, os proprietários (exceto os investidores, num total de onze) que estivessem em dia com as obrigações financeiras junto à Construtora, concorreriam aos seguintes prêmios: carro (1º), geladeira (2º), fogão (3º), máquina de lavar roupas (4º) e microondas (5º).
Dentro do prazo acordado, a Construtora entregou a obra, marcando a inauguração para 29 de julho de 2009, às 19:30 horas (missa), e 20:30 horas (coquetel); nesta data, presentes os interessados e familiares, a coordenação do evento determinou as regras do sorteio dos prêmios: cada proprietário de apartamento, a partir do 101, seria identificado por um número seqüencial de 1 a 33, sendo todos esses números colocados num globo, e o sorteio se daria com a retirada das bolas, sendo premiados os últimos cinco números que restassem no globo.
Iniciado o sorteio, via-se, à medida que as bolas eram retiradas do globo, as alegrias dos que ficavam diretamente proporcionais às tristezas de outros que saiam. Já nas primeiras bolas retiradas, minha mesa, composta de seis pessoas, começou a ficar na penumbra de uma tristeza repentina, restando aos excluídos do globo à solidariedade de torcer pelo único membro remanescente. Passadas várias rodadas de exclusões, e após três condôminos serem agraciados com prêmios menores, restaram, ao grande prêmio final, dois números de dois concorrentes distintos, quais sejam, o seis e o dezesseis.
O sorteio final mereceu uma visualização especial, o que fez a coordenação do evento chamar os portadores dos números seis e dezesseis ao pequeno palco improvisado na festa de inauguração. Então, com o auxílio de uma criança, a coordenação do evento anunciou o penúltimo ganhador, portador do número dezesseis, que, com um sorriso bem discreto, agradeceu pela economia relativa à desnecessidade de comprar uma geladeira nova.
Confesso que, tempos atrás, mesmo na condição de solteiro, tive na garagem, à minha disposição, dois carros; exceto pela besta vaidade, não consigo vê alguma utilidade nisto – assim, não querendo me passar novamente por uma pessoa fútil, transformei o número seis em reais equivalente a um montante um pouco menor do que ele valia comercialmente.
Será que tem tanta sorte mesmo uma pessoa que, entre trinta e três, é a última que tem seu número retirado de um globo! E se consideramos que geralmente os sorteios são pelo primeiro que sai...

Chiquinha Lidu


Do tempo passado, resta-me a saudade, com mais intensidade, da minha vó materna, Chiquinha Lidu.
Das lembranças mais marcantes ressalto aquela de sua pequena casinha, simples, diga-se, aconchegante, sem dúvida. No cruzamento de duas ruas, eu diria que a casinha dela ficava localizada no que hoje considero a esquina mais pobre, entretanto, sequer existe mais. Um pequeno terraço, dois pequeninos quartos, uma salinha e uma cozinha menor ainda, assim posso resumir, se a memória não me falha, o lar de muitas das minhas férias prazerosas. Em contraste com as dimensões diminutas da casa, o quintal era relativamente grande, onde se destacava um pé de manga de sabor incomparável e cujo nome não se conseguiu identificar, uns pés de caju, algumas goiabeiras, muitos pés de cana e, de recordação inesquecível, um pequeno poço de água doce bem próximo da “latada” (pequena cobertura feita de palha de carnaúba) construída como extensão da cozinha; esse poço tinha uma água extremamente cristalina, na verdade, aparentava bem azulzinha, e era usada para se beber e cozinhar, e quando era a estação das chuvas, sua vazão era tão intensa que sua água transbordava (ainda que no período sem chuvas, bastava um balde e um pedaço de corda de um metro para se colher sua água).
Era na “latada” que minha vó atuava com prazer com seus dotes culinários, e, apesar do longo tempo decorrido dessas férias, não me falta a memória quanto ao meu prato predileto por ela preparado: feijão verde com arroz feito à base de tempero verde (folha de cebolinha e coentro), cebola e o inigualável azeite de côco, e, claro, cozido à lenha numa pequenina panela de ferro que servia apenas duas pessoas. O resultado dessa mistura gastronômica era facilmente percebível quando minha vó levantava a tampa da panela, pois o tempero subia para a parte superior do feijão com arroz e o cheiro acirrava nosso desejo de “matar” a fome – pronto, de acompanhante o feijão com arroz ao azeite de côco se transformava no prato principal, e o ovo de galinha caipira, estrelado (frito) com azeite de côco, completava o simples cardápio perfeito.
À tardinha, após uma pequena sesta, minha vó pegava seu instrumento de trabalho e passava o resto da tarde no terraço confeccionando, milimetricamente e com uma rapidez assustadora no manuseio dos bilros, alguns centímetros de renda, a ser utilizada em confecção de cama, mesa ou banho próprios, ou para vender a terceiros.
Infelizmente, em decorrência de uma vizinha que não lhe nutria amores, e que quando de passagem pela frente da casa se esmerava em tossir às alturas e escarrar, minha vó não teve outra alternativa que não vender sua pequena casinha, e, a partir daí, como que uma praga lhe dirigida, passou o resto da vida praticamente com “as malas na cabeça”, uma vez que as constantes mudanças de residências integraram-se ao seu cotidiano.
Hoje, da casinha de minha vó não resta nenhum sinal, mas no quintal, salvo ação atual mais perversa, restou o pé de caju...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Teresina (PI), Cidade Verde



Vislumbrando melhores ares e perspectivas, meu pai resolve, mais uma vez, mudar de endereço, desta feita, fixando residência em Teresina (PI), reconhecida por seus nativos como a “Cidade Verde”, talvez, a capital mais verde do País. Apesar das muitas árvores, é verdade, e o fato de ser quase uma ilha (pois é banhada pelos rios Parnaíba e Poti, que a circunda quase completamente), isso não amenizava o calor implacável de uma temperatura média de 38° centígrados, à sombra, durante seus 365 dias do ano! E isto é comprovável diariamente pelos locutores das estações de rádio FM locais, que anunciam seu tempo desta forma: em Teresina, 18:00 horas, 38º.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Meu primo

Nesses primeiros anos de Teresina, um primo meu veio morar conosco, tempo em serviu o Exército. Por esse tempo, meu pai tinha um jeep ano 1959, e, como meu primo era metido a mecânico, quando de suas folgas de final de semana, o mesmo se metia dentro do capô desse jeep e tratava de colocá-lo em condições de funcionamento – era praticamente o dia todo melado na graça para, numa volta experimental, a gente ficar novamente “no prego”, a empurrar o chamado “casquinha” pelas ruas até “pegar”. Um dia, numa dessas voltas experimentais, meu primo ia passando por uma rua quando um grupo de três moças, sem nenhum razão, achou de zombar do carro e de seus passageiros; ato contínuo, meu primo olhou para elas, deu aquele grito com um tremendo palavrão regado com uma dedada daquelas! Ainda lembro o constrangimento das moças, digamos, com o rabo entre as pernas...
É também desse meu primo o “grande” incentivo que tivemos, eu e meu irmão mais novo, para trocarmos tapas e murros por besteiras triviais, a exemplo de apelidos, quebra do carro de madeira, batida de carro de rolimã etc, pois, quando tal ocorria, esse primo ficava nos insultando, um ao outro, até que “o pau” começasse..., e depois, quando alguém separava a briga e nossa mãe perguntava a causa, o primo, na maior desfaçatez, alegava que não tinha nada a ver com aquilo...

A paixão pelo futebol


Meu amor bem particular pelo esporte bretão se delineou quando morava em Parnaíba (PI), pois meu pai gostava de ouvir as transmissões das partidas futebolísticas da capital piauiense através das estações de rádios em amplitude média (AM), as ditas Rádio AM, e ele era um torcedor árduo do então Piauí Esporte Clube, famoso na época, e então identificado carinhosamente por “Piauizão Vibrante”. Ainda que com este indicativo paterno, confesso que não consegui me decidir pelo “Piauizão”, pois, viciado pela locução esportiva, um dia ouvi pelo rádio, com a costumeira “chiadeira” de sempre, uma partida entre o River Atlético Clube e o Flamengo Esporte Clube (times da capital piauiense), cujo resultado importou na vitória deste último por dois a zero, e, daí em diante, me fez torcer pelo rubro-negro piauiense, paixão que perdura até os dias de hoje.
O carinho pelo Flamengo piauiense extrapolou divisas e me fez, com muito mais paixão, alcançar a nação rubro-negra do Flamengo carioca, principalmente, anos depois, com o surgimento de craques como Zico, Andrade, Adílio, Geraldo, Leandro, Júnior etc.
Esse amor pelo futebol cresceu assustadoramente quando da realização da Copa do Mundo de 1970, pois, sendo a primeira vez que ocorria a transmissão, via Embratel, pela televisão, pudemos assistir ao vivo o desenrolar dos nossos craques canarinhos passeando pelos gramados do México. Estavam lá, enchendo os olhos dos mexicanos e do resto do mundo, estrelas que foram eternizadas pelos torcedores, a exemplo de Jairzinho, Gérson, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto, Clodoaldo e, a maior e mais reluzente de todas, Pelé! Mesmo com apenas onze anos à época, lembro do sofrimento da primeira partida (Brasil versus Inglaterra), sofrimento esse pela dificuldade da partida em si, que terminou com a vitória canarinho por um a zero, bem como pelo desconforto da sala em que nos encontrávamos assistindo o jogo – é que, como não tínhamos televisão, o vizinho de frente de nossa casa, com cortesia, acolhia todos aqueles que não possuíam esse aparelho, o que redundava em espalhar pessoas por todos os cantos da sala, e, na ausência de cadeiras para todos, sobrava para os meninos o chão... De qualquer forma, nem a dureza do chão durante os noventa minutos da partida diminuiu a vibração que coroou a festa quando da final da Copa, logrando a Seleção Brasileira em aplicar uma sonora goleada (quatro a um) na então Seleção da Tchecoslováquia.
Assim, essa paixão pelo esporte bretão foi crescendo a cada dia, mas não se resumiu apenas em ouvir ou assistir as pelejas futebolísticas; de então, passei a ser um contumaz praticamente de tão delicioso exercício físico, a ponto de, como tal, ser este o único e confessado vício que me acompanhou por todos esses longos anos de vida. Neste sentido, todas as minhas residências da infância, adolescência e juventude sempre foram marcadas pela existência de um campinho de “peladas” (ou de várzea, para alguns) nas imediações, o que me possibilitava correr atrás da bola
e desenvolver essa arte, mesmo sem a intenção de me tornar um “craque”, mas, também, longe de me considerarem um candidato a “perna de pau” – eu diria, dei meus passes (que os atuais locutores esportivos chamam de “assistência”), fiz meus goolzinhos, pisei algumas vezes na bola (até Pelé deve ter dado suas pixotadas), acusei muitos juízes de ladrão (quando eles apitavam as “peladas”), discuti e, por certo, cheguei às vias de fato algumas vezes, mas sobrevivi, ainda que como um legítimo peladeiro.